A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Mesmo com extremos climáticos varrendo produções ano sim e outro também, o Rio Grande do Sul registrou a menor taxa de inadimplência do agronegócio no país em 2023. A porcentagem de endividamento gaúcha, de 4,2%, é menor, inclusive, do que a média brasileira, que ficou em 7,1%. Os dados, que consideram apenas pessoas físicas que atuam no setor e dívidas que venceram por mais de 180 dias, foram divulgados na segunda edição do Boletim Agro da Serasa Experian.
Na avaliação do head de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, a vocação agrícola do Estado ajuda a levar para baixo a taxa de endividamento no campo:
— É uma geração de produtores trabalhando na terra, que tem mais experiência de trabalho e, por isso, meios de renegociação de dívidas antes delas vencerem.
É o que mostram também os dados da Serasa Experian. Enquanto os jovens de 18 a 29 anos marcaram uma taxa de inadimplência de 10,5% em todo o Brasil, pessoas mais experientes, com 60 a 69 anos, por exemplo, registraram 5,8%.
A frequência de extremos climáticos — por mais paradoxal que possa soar — no Rio Grande do Sul também ajuda a manter a porcentagem baixa.
— Os produtores ficam experientes em lidar com situações como essa. E a penetração do seguro no Estado também ajuda — explica Pimenta.
Entre as propriedades gaúchas, as maiores (5,4%) registraram uma maior taxa de endividamento em comparação às menores (3,5%). Segundo o head de agronegócio, essa distinção tem a ver com a queda no preço das commodities.
— Produtores tinham alavancados duas, três safras na frente, mas com a queda do preço está com dificuldade de rolar suas dívidas — analisa.
A enchente nos dados
Por óbvio, a enchente de maio só vai aparecer nos dados do agro da Serasa Experian a partir deste ano. Pimenta adianta que será necessário criar um "score de crédito" separado do resto do Brasil pelos próximos dois, três anos.
— Inicialmente, a taxa será zerada. E, em seguida, vai ter muito efeito de subsídios, de programas de auxílio, para renegociar dívidas que devem segurar a avalanche de negativações — acrescenta o head.