Com previsão de estar disponível a partir de maio, a linha anunciada nesta segunda-feira (17) pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) injeta R$ 2 bilhões para o crédito rural. Mas não é um modelo dentro do formato convencional. Os financiamentos englobados no novo produto financeiro serão atrelados à variação cambial e voltados a produtores que têm receita em dólar.
Diante da escassez de recursos da União para a equalização de juro — linhas do Plano Safra, que termina somente no final de junho, estão suspensas pelo nível de comprometimento das quantias liberadas —, a construção apresentada é uma alternativa. Busca colocar dinheiro para que agricultores e pecuaristas possam manter os investimentos, sobretudo em máquinas agrícolas. A linha, batizada de BNDES Crédito Rural, terá uma taxa de 7,59% ao ano, mais variação cambial. A carência será de 24 meses, com prazo de 120 meses para o pagamento.
— Essa é uma nova forma de financiar o agro exportador, é um modelo inteligente, que não pesa nos cofres públicos e dá competitividade aos nossos produtores — disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
O detalhamento de como funcionará a nova linha será trazido em uma instrução normativa, que deve ser publicada hoje. A novidade tem sido vista como positiva por trazer um outro canal de acesso a recursos.
— A medida é salutar, mais uma opção de financiamento para agricultores que têm recebíveis em dólar. Deve ajudar as vendas na Agrishow — pondera Pedro Estevão Bastos de Oliveira, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (CSMIA/Abimaq), acrescentando que é necessário avaliar a normativa.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, também entende que a linha é interessante e “coerente com o que tem se construído de crédito rural no Brasil nos últimos quatro anos”:
— A lei do agro, os Fiagros, tudo veio com objetivo de atrair o mercado de capitais para o agro.
Ao ser atrelado à variação cambial, no entanto, esse tipo de financiamento tem exigências diferentes daquelas de empréstimos tradicionais.
— O produtor que quiser fazer essa linha precisa aprender a fazer hedge — diz Luz.
A “trava” na cotação aumenta o custo da operação (8% mais o gasto para fazer o hedge), mas ajuda o agricultor a evitar as oscilações do dólar, que podem ampliar de forma substancial o valor devido. O economista lembra que, nos últimos 10 anos, o aumento do câmbio foi de 159%.
Luz faz uma ressalva: o interesse externo e interno na modalidade dolarizada pode ser atrapalhado pela manifestação feita sobre a moeda americana na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China.