De todas as leituras que podem se feitas sobre os dados da inflação do agronegócio no Estado, medida pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul) uma das que atenção do produtor é a da inversão de curvas. Os preços recebidos, que já vinham desacelerando, registraram em junho a primeira queda do ano — de 6,73%, em comparação com o mês de maio. Em contrapartida, os custos, que evidenciavam altas, cresceram 1,62%. De forma geral, o cenário se mantém favorável.
Quando se olha no acumulado de 12 meses, o percentual de valorização é o maior, superando inclusive o de 2012, ano fortemente impactado por uma seca. O problema é que, nessa mesma comparação, os gastos atingiram o maior patamar desde o início da série histórica (veja quadro).
— O que chama a atenção é que apesar do preço se manter muito bom, tem um custo que está crescendo de forma mais acelerada. E que isso significa? Que tem de ter cuidado com as margens — alerta Danielle Guimarães, economista da Farsul responsável pelo levantamento dos índices.
No ciclo 2020/2021, há sim uma combinação de boa safra e preços recebidos. Danielle lembra, no entanto, que as receitas foram formadas dentro de outro contexto. Em 2020, a valorização da produção, que já ocorreria em razão da estiagem registrada no Rio Grande do Sul, foi potencializada por outros fatores. No cenário pandêmico, foram adicionadas a desvalorização cambial, o aumento da demanda por alimentos e mudança de hábitos de consumo trazida pelo distanciamento social. O resultado está expresso em números: o índice de inflação de preços recebidos fechou o ano com aumento de 80,51%. No mesmo período, os custos de produção subiram 7,50%.
Para a safra 2021/2022, a tendência é de custo em trajetória de aceleração, a reboque de câmbio e insumos mais caros (caso de fertilizantes e combustível). Em contrapartida, os valores dos produtos seguem na direção à estabilidade, ainda que em patamares atrativos.
— O produtor deve se organizar e tentar investir, principalmente em capital de giro próprio. Fazer gestão financeira eficiente. As margens vão se estreitar, exigindo atenção ao momento da tomada de decisão — reforça a economista da Farsul.