O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Além da quebra da safra no verão, o Rio Grande do Sul também viu a colheita de inverno encolher em 2020. Balanço da Emater, concluído na sexta-feira (29), indica que o Estado produziu 2,7 milhões de toneladas de trigo, aveia branca, cevada e canola. Com quebra nas quatro principais culturas semeadas na estação mais fria da temporada, o resultado representa redução de 12,5% frente a 2019. A situação frustra as expectativas dos produtores, que haviam aumentado a área plantada de 1,1 milhão para 1,3 milhão de hectares, a maior dos últimos cinco anos.
O desempenho aquém do ciclo anterior é justificado pela ocorrência de geadas em agosto e pelo retorno do tempo seco na primavera, que impactou a produtividade das lavouras semeadas no inverno. A retração é puxada pelo trigo, principal cultura da estação, que teve colheita de 2 milhões de toneladas. O resultado significa queda de 11,2% frente ao ciclo anterior.
- Esses dois parâmetros (geada e estiagem) afetaram a produtividade, principalmente nas regionais de Santa Rosa e Frederico Westphalen, que estão entre as maiores produtoras do Estado - constata Elder Dal Prá, coordenador da área de culturas da gerencia técnica da Emater.
Se levada em consideração a expectativa inicial que havia para o trigo, o tombo é ainda maior. Isso porque, neste ano, o Estado ampliou a área de trigais de 760,9 mil para 955,3 mil hectares. Na contramão, sob efeito do clima adverso, a produtividade média por hectare caiu de 3 mil quilos para 2,1 mil quilos. O encolhimento é de 29,2% entre os dois períodos. Ou seja, se o Estado tivesse a repetido a produtividade da safra 2019, deveria produzir quase 2,9 milhões de toneladas do cereal.
- Levando em conta o preço médio da saca em 2020 (na faixa dos R$ 55), o produtor deixou de embolsar aproximadamente R$ 1 bilhão de reais com a perda de produtividade no trigo - estima Tarcísio Minetto, coordenador da Câmara Setorial do Trigo do Rio Grande do Sul.
Apesar do resultado, Minetto acredita que o produtor seguirá apostando na cultura no próximo ciclo. Com o preço do cereal valorizado, influenciado pelo dólar acima de R$ 5, a safra passada acabou gerando boa rentabilidade aos produtores mesmo sem ter atingido o potencial máximo. A saca chegou a ser comercializada acima de R$ 85 no segundo semestre. Assim, a expectativa é de que o Estado retorne à faixa de 1 milhão de hectares cultivados em 2021, o que não ocorre desde 2014.
Na aveia branca, a safra chegou a 575,9 mil toneladas, diminuição de 11,7%. A produtividade média foi 2,2 mil quilos por hectare, tombo de 18,4%. Já a safra de cevada totalizou 99 mil toneladas, diminuição de 30,7% no volume colhido. A produtividade média por hectare chegou a 2,4 mil quilos, recuo de 20%. Além disso, o Estado obteve 32,5 mil toneladas de canola, retração de 30,3% frente a 2019. A produtividade média da cultura atingiu 921 quilos por hectare, 36,3% a menos do que no ciclo anterior.