Em um assunto tão sensível quanto o uso e registro dos agrotóxicos, as ideologias precisam ficar de lado. Um debate sério só vai ocorrer a partir de argumentos concretos e científicos. O “ouvi falar que” não pode ser parâmetro para tomar partido pró ou contra a proposta. Está coberto de razão o professor José Otávio Menten, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), ouvido pela repórter Joana Colussi na reportagem principal deste caderno. Ele diz que há “muita gente se posicionando contra e a favor sem nem ter lido o projeto”. E isso é um gol contra. Toda a sociedade tem a perder com isso.
Na tentativa de envolver a população na discussão, a Câmara dos Deputados criou uma consulta pública em seu site. A iniciativa é muito interessante. Mas o formato deixa a desejar. Um breve texto de oito linhas tenta resumir tudo o que está em jogo. Mas não há nenhum link para o projeto de lei na íntegra. Será mesmo que é possível formar opinião só a partir do que está exposto ali? O risco que se corre é de obter um resultado artificial, que não reflita real conhecimento do tema.
Em ano de eleição, é bastante provável que o texto nem chegue a ser votado no plenário. Há, no entanto, um consenso, mesmo entre quem é contra a mudança, de que falta gente para fazer as avaliações dos registros de agrotóxicos. O tempo de espera no Brasil é longo – pode chegar a oito anos –, em descompasso com a realidade vivida no campo, que exige respostas rápidas. E morosidade não é sinônimo de rigor.
É possível – e é preciso – ser criterioso no uso dos agrotóxicos no país. Mas isso não pode estar associado à demora.