Se depender do barulho das entidades ligadas ao setor produtivo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), vetará a lei aprovada no apagar das luzes de 2017 que institui a “segunda sem carne”. De autoria do deputado Feliciano Filho (PSC) determina que escolas da rede pública e restaurantes que fornecem refeições a órgãos estaduais fiquem proibidos de servir proteína animal neste dia da semana. O texto recebeu aval dos parlamentares e deu início a uma onda de notas de repúdio.
– Falei com o secretário da Agricultura de São Paulo, Arnaldo Jardim, e ele me assegurou que o governador deve vetar a lei. É absurda e um perigoso precedente – afirma Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
A maior preocupação é que a ideia se espalhe por outros recantos do país, prejudicando o setor que, somente na área de aves e de suínos gera 4,1 milhões de empregos diretos e indiretos.
A Associação Brasileira de Angus também se manifestou sobre o assunto, ressaltando que “os prejuízos da proposta, caso venha a ser sancionada, não se limitam à nutrição e à liberdade de escolha, pois se estendem ao mercado, tendo em vista a importância da carne no progresso econômico do Brasil”. A entidade afirma que a medida poderia trazer perda anual de até R$ 29 bilhões na cadeia produtiva da pecuária de corte do país.
Feliciano Filho é conhecido por defender causas relacionadas a animais e disse que a lei “dará à população de São Paulo um dia por semana para pensar na aflição dos animais nos abatedouros”.
Argumentos econômicos à parte, o maior problema da proposta está no fato de o Estado interferir em uma escolha que deve ser individual. Campanha de adesão voluntária a uma segunda sem carne é uma coisa. Proibição – ainda que restrita à esfera pública – é outra, completamente diferente.
É como observa a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec): na democracia, não cabe ao Estado ditar o que o cidadão deve consumir.