A Americanas desocupou 20 mil metros quadrados da área de armazenagem e logística que tem em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre. O número, que representa cerca de 51% do total de área que a empresa tem no centro de distribuição, está em um levantamento feito pela SDS Properties, imobiliária especializada em galpões e condomínios logísticos. Isso significa que é uma área que a rede de lojas deixou de usar nas últimas semanas e que retorna ao dono do complexo logístico para que ofereça a outro negócio.
— Dentro do nosso escopo de serviços, monitoramos onde as empresas estão. Temos equipes que atualizam, trimestralmente, toda movimentação de mercado. Se as companhias continuam onde estão, quais são os novos empreendimentos logísticos, quais negócios deixaram as áreas. É a partir desse time que identificamos a devolução do espaço da Americanas — explicou à coluna Simone Santos, CEO da imobiliária.
O levantamento é nacional. De acordo com a SDS Properties, a Americanas chegou a ocupar 830 mil metros quadrados em condomínios em 2022. Desse total, a empresa devolveu, ainda no ano passado, 159 mil metros quadrados. Ou seja, antes da crise bilionária e do pedido de recuperação judicial de janeiro. Para 2023, já confirmou a devolução de outros 69 mil metros quadrados, incluindo os 20 mil de Porto Alegre.
De acordo com Simone, as devoluções podem afetar preços em mercados onde a vacância está elevada, o que é o caso da Grande Porto Alegre. Segundo a executiva, o Rio Grande do Sul está com a maior vacância em condomínios logísticos do país, de 16,6%. A média nacional é de 10,43%.
— O Rio Grande do Sul recebeu muitos novos condomínios logísticos desde a pandemia. Agora, como o e-commerce está mais cauteloso em relação a investimentos e crescimento, a oferta por espaços de logística ficou bem maior no Estado. O Rio Grande do Sul é o oitavo Estado do Brasil em termos de volume, com 550 mil metros quadrados, e o que tem a maior vacância.
Em 2021, a Americanas tinha anunciado que ampliaria em 14 mil metros quadrados o seu CD em Gravataí, que fica no condomínio logístico Modular 118, chegando a 39 mil metros quadrados de área.
Em nota, a Americanas não confirmou (nem negou) a devolução da área. Se limitou em dizer que "o planejamento logístico para 2023 está sendo revisto considerando a nova realidade financeira da companhia, mas que ainda não há definições." A coluna também procurou a incorporadora Montabil, responsável pelo condomínio logístico, e aguarda retorno.
Queda de circulação na internet
A crise bilionária da Americanas tem impactado nas vendas pela internet. Em um comunicado enviado ao mercado, a companhia confirmou uma queda de 33% de usuários mensais ativos em janeiro, em relação ao mesmo mês de 2022. Esse termo é referente às pessoas que "circulam" pelas plataformas digitais da marca. Já o tráfego nos sites da companhia — que seria a quantidade de circulação, mesmo que pela mesma pessoa — caiu por mais da metade: uma redução de 51%. O maior número, porém, está na queda de 63% nos downloads de aplicativos da companhia. Os dados foram repassados à Americanas pela SimilarWeb, que é a fonte oficial da empresa para medir os resultados pela internet.
Recuperação judicial
A Americanas entrou em recuperação judicial em 19 de janeiro, uma semana após divulgar um fato relevante confirmando um rombo de R$ 20 bilhões na contabilidade. Agora, as dívidas já passam dos R$ 40 bilhões, e a companhia trabalha em um plano de reestruturação, que deve ser apresentado para os credores até 19 de março.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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