Tarifas, empregos e investimentos foram os principais temas da entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com o vice-presidente da Aegea, Leandro Marin. O grupo arrematou a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). Confira trechos abaixo e o áudio na íntegra no final da coluna.
Qual a estrutura da Aegea?
É uma holding que controla operações e concessões de saneamento no país. Tem 12 anos. Antes da Corsan, operávamos em 178 cidades, três Estados, atendendo 26 milhões de pessoas. Tem o controle acionário de um grupo brasileiro do interior de São Paulo, o Equipav, e outros dois acionistas: o fundo soberano do governo de Singapura e a holding controladora do banco Itaú, a Itaúsa.
Qual a previsão para a tarifa ao consumidor?
A Corsan detém 317 contratos de concessão pública, é um serviço público delegado. O operador de saneamento opera sob delegação do ente público, que, no caso, são os municípios. Nenhuma concessionária de serviço público tem o poder de definir a tarifa por conta própria. Ela é definida segundo as regras da regulação, pelas agências que regulam os contratos de concessão. Não há expectativa que isso varie aleatoriamente, de alteração no modelo e nenhuma expectativa de aumento de tarifa depois da privatização, muito pelo contrário, ela vai se manter nos níveis de hoje. Existe uma previsão de reajuste pela reposição inflacionária.
Será mantido o mecanismo para apenas corrigir pela inflação até 2027?
Sim. Os contratos que foram aditados com os municípios que fizeram essa negociação com a Corsan previamente à privatização trazem essa previsão. Está contratualizado.
O senhor fala que não mudará o modelo que define a tarifa, mas a Aegea terá que fazer grandes investimentos, ao mesmo tempo em que se espera mais eficiência. Pelos estudos da empresa, o custo poderia provocar elevação na revisão tarifária de 2027?
A regulação será balizada pela Agência Nacional de Águas (Ana), que tem o papel definido pela lei do saneamento. Ela não está pronta elevará um ano e meio para ser construída. Mas nossa convicção é de que a tarifa não deve aumentar, mesmo com todo esse investimento que levaremos ao Rio Grande do Sul, porque a concessionária é privada. Diferente de uma pública, a regulação tende a alocar esses riscos de variação de investimentos, de demanda e de custos. É uma questão muito técnica, mas para resumir: nos nossos estudos não têm aumentos decorrentes das revisões tarifárias da Corsan. Obviamente, vamos precisar discutir isso com agências, Estado e municípios.
De quanto será o investimento da Aegea no Rio Grande do Sul, além dos R$ 4,151 bilhões da aquisição?
São estimados R$ 16 bilhões nos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário; e redução de perdas de água. O principal mote é a cobertura da rede, que, na média da população atendida nos 317 municípios da Corsan, é de 20%. O marco do saneamento trouxe uma meta que precisa ser cumprida de elevar para 90% até 2033, garantindo o que chamamos de universalização.
Quais os planos para os trabalhadores?
O pressuposto é que quem vai fazer a Corsan maior e melhor são os gaúchos, as pessoas que hoje estão trabalhando nela. É impraticável pensar que vamos mobilizar 5 mil pessoas de fora. É 100% mão de obra do Rio Grande do Sul, inclusive, a nossa expectativa, por outras experiências em concessões, é que muita gente vai trabalhar em outras operações do grupo. É uma integração, não uma cisão. Tem muitos talentos na Corsan, pessoal qualificado e técnico. A mensagem é de continuidade operacional, crescimento profissional e oportunidade.
Pretendem aumentar, manter ou reduzir o número de funcionários?
A nossa expectativa é manter, com ganho de eficiência a partir da flexibilidade que uma empresa privada tem nos seus processos: o sistema de contratação, de avaliação de fornecedores, de desempenho e aferição de metas dos funcionários para que ganhos de produtividade aconteçam e permitam que a Corsan melhore.
Terá mudança na Fundação Corsan, dos aposentados?
A Fundação Corsan é um benefício adquirido pelos funcionários e tem uma regulamentação da Previc, que é a entidade reguladora desse tipo de benefício. Ela é muito rigorosa, então também não existe nenhuma possibilidade de a Corsan fazer qualquer coisa sem que esteja enquadrada nessa regulação. Obviamente, visa proteger o patrimônio dos empregados. Vamos discutir como estancar e equacionar o déficit de R$ 800 milhões no plano, que não é bom para a Corsan, nem para os funcionários.
Apesar de ter saído o leilão, o contrato de compra da Corsan ainda não pode ser assinado por decisões judiciais. O que a Aegea fará?
Estamos superconfiantes. A equipe do governo do Estado está discutindo e nós estamos observando, ainda não somos os controladores da empresa. Obviamente que, a partir de agora, vamos avaliar do ponto de vista jurídico como podemos contribuir com a discussão.
Como conduzirão com os municípios que não assinaram os aditivos?
A nossa interação é de parceria com os municípios, mostrar para os que não assinaram que o caminho da universalização passa por ter um prestador de serviço com capacidade financeira de executar os investimentos. Qualquer coisa diferente disso vai implicar em brigas judiciais, demandas demoradas e, eventualmente, rescisões contratuais. O único prejudicado com essa situação é a população, que fica sem o serviço. Temos uma crença muito grande de que a proposta de valor vai convergir com os interesses de todo mundo.
Onde a Aegea está captando o dinheiro para o investimento, que é alto? Cogita buscar em bolsa de valores?
O capital hoje da Aegea é de acionistas que estão investindo no Estado e tem uma estrutura muito robusta de financiamento. Na largada, já há acordos com bancos que garantem a disponibilidade do recurso. A ideia é, ao longo desses próximos anos, também buscar financiamentos, seja em bancos de fomento, tipo BNDES e Caixa Econômica Federal, mas, principalmente, no mercado de capitais. Há um mercado desenvolvido de emissão de debêntures e outros tipos de financiamento muito acessíveis que a Aegea já usa em larga escala, inclusive internacionais, para investir em saneamento no Brasil.
Colaborou Vitor Netto
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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