Marca de chocolate criada há 130 anos e comprada há uma década pela Vonpar, a Neugebauer receberá um forte investimento para expansão. A fábrica de Arroio do Meio será ampliada com R$ 80 milhões e serão construídos mais dois centros de distribuição. As informações foram antecipadas pelo presidente Ricardo Vontobel, em entrevista ao podcast Nossa Economia, quando também falou sobre liderança e estímulo à criatividade da equipe. Confira trechos abaixo e o áudio na íntegra no final da coluna:
No painel da Expoagas, o presidente fez uma provocação para que não se confunda criatividade com inovação. Qual é a diferença?
Acho que a inovação tem um tempo curto. Na medida em que as coisas são tornadas públicas, acabam virando commodities, porque logo tem quase todo mundo aderindo ao que você chamou. O freio ABS, quando surgiu, foi uma inovação. Um ano depois, todas as montadoras do mundo estavam usando nos carros. A palavra inovação, muitas vezes, é confundida com criatividade. As pessoas falam de coisas que são criativas, de uma nova forma de fazer aquilo que já se faz, como se fosse uma inovação. Não concordo. É impossível a empresa inovar todos os dias, sem parar. A palavra "inovação" acabou se tornando um pouco de modismo.
Como estimular a criatividade da equipe e dos líderes?
Eu não tenho dúvida de que a criatividade tem a ver com o ambiente da organização, com o direito que dá ao funcionário para opinar, até errar. O ambiente tem que ser fluído, as pessoas não podem ter medo. Elas têm que se sentir à vontade e confortáveis pra expressas o que pensam sobre os processos. Nas empresas mais monocráticas, onde o ambiente é mais rígido, as pessoas têm dificuldade de se expor. Então, a criatividade não flui.
Como como deixar o ambiente leve e tirar o medo de errar?
Tem a ver com os valores da organização, com o respeito que as lideranças tratam as pessoas, com a liberdade que se dá e, acima de tudo, com a continuidade. Eu defendo a estabilidade, gosto de pessoas que trabalham anos comigo, porque acabo conhecendo muito além do profissional. É fundamental para esse ambiente de confiança, o que gera criatividade.
Como ensinar a lidar como o erro?
Quando eu comecei, muito jovem, com 12 anos, eu já saía fazendo entrega em caminhão de Coca-Cola. Meu pai dizia: "Tu é o filho mais velho, você tem que aprender sobre o negócio cedo. Se algo acontecer comigo, alguém tem que continuar tocando o negócio.". Isso me deu uma visão de mundo, de entender diferentes personalidades, o que foi incrível. Quando chegou meu momento de assumir a empresa, meu pai disse: "Olha aqui ó, erra mas não deixa nunca de tomar decisão. Erra quando tiver que errar, porque errando você vai aprender a depois fazer o certo.". Aí está o grande segredo. Se você não ousar, mesmo que eventualmente vá errar, nunca vai acertar. O direito de errar tem que ser inerente ao processo de gestão. Já errei muito na minha vida, mas é a melhor escola da vida. O que vale é o saldo entre erros e acertos.
Como ser ousado e manter a essência de uma marca centenária?
A gente não pode viver da tradição. As marcas têm que ser contemporâneas, porque novas gerações acabam vindo e não vou ficar só com o consumidor do passado. Quando assumimos a Neugebauer, era uma empresa antiquada na forma como se posicionava no mercado, com as marcas, com as embalagens. Tratamos de mudar para o novo consumidor, que não conhece a história, tenha desejo de consumir os produtos. Às vezes, há receio: "Como é que vão mudar se a vida inteira foi feita dessa forma?". Quando compramos a empresa, estava quase terminal. Se não tivéssemos feito a transformação, provavelmente terminaria quatro ou cinco anos depois. Ela tem que se comunicar com o mundo que nós vivemos, com os consumidores que estão nascendo. Senão, não sobrevive.
O que vocês mudaram?
Tudo. Construímos uma fábrica nova. A outra era muito antiga, era difícil tirar de lá um produto de qualidade. Os equipamentos eram absolutamente obsoletos. Construímos uma fábrica - digo sem medo de ser arrogante - com um equipamento que faz a massa de chocolate que é o que tem de melhor. É desenvolvido na Suíça. A moldagem é com equipamentos alemães. Para embalar, são italianos. É a última tecnologia do ponto de vista de processo industrial de chocolate. Visitamos todas as formulações dos nossos produtos para chegar à melhor qualidade e que o consumidor esteja disposto, obviamente, a pagar. Reformulamos toda a estrutura comercial. Hoje, a Neugebauer tem centro de distribuição no Paraná, em São Paulo e em Minas Gerais. Estamos abrindo um em Santa Catarina e um no Nordeste. Quer dizer, toda a malha logística foi reformulada. Todos os processos internos de gestões foram reestruturados. Vamos ampliar a fábrica no ano que vem.
Temos detalhes dos novos investimentos?
Será em função do nosso crescimento nos últimos anos, começando a exportar para vários países da América Latina, da África e com expectativa de continuar crescendo no Exterior. Temos ainda um longo caminho a percorrer, melhorar a nossa distribuição no Brasil, um país continental. Lançamos inúmeros produtos, temos um portfólio que tem quase o dobro do que quando compramos a Neugebauer. E não ficou nenhuma embalagem como era antes. Centros de distribuição são uma necessidade quando a empresa está cada vez mais nacional. Antes, era regional. O Rio Grande do Sul respondia por 70% do que comercializávamos. Agora, é 30%. Então, a partir de setembro de 2023, começaremos a nova linha de produção. O investimento ficará na faixa dos R$ 80 milhões nesta primeira expansão. Os equipamentos já foram adquiridos, a decisão já foi tomada. Agora, é só a espera para a entrega e depois a instalação. Ainda não definimos o local do centro de distribuição do Nordeste, estamos analisando a logística. Pode ser entre Recife ou Fortaleza.
Ouça a entrevista na íntegra:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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