O preço do petróleo disparou desde que a Rússia invadiu a Ucrânia. Chegou a US$ 139 no início da semana, aproximando-se do recorde histórico, de 2008. Recuou, mas segue acima dos US$ 110. Para se ter uma ideia, no início da pandemia, caiu para US$ 30.
Além do dólar, o petróleo é o que leva a Petrobras a mexer nos preços dos combustíveis no Brasil. Nesta sexta-feira, estão entrando em vigor altas fortíssimas que a estatal anunciou ontem, após semanas pressionada para que fizesse o aumento. A demora no repasse, já provocava desajustes no mercado, como limites de cotas para venda.
O Brasil produz mais petróleo do que consome e se declara "autossuficiente". Porém, devido ao tipo de petróleo extraído e a insuficiência na capacidade de refino, ainda precisa importar petróleo cru e derivados, como a gasolina. Isso faz a Petrobras sentir as oscilações no Exterior do petróleo e do câmbio.
Veja a explicação detalhada do químico industrial Marcelo Gauto à Rádio Gaúcha:
"Mesmo sendo um grande produtor de petróleo, tem que fazer repasses para o mercado interno. O primeiro elemento é que o mercado brasileiro de petróleo e combustíveis é legalmente aberto desde 1997. A quebra do monopólio fez com que novas empresas viessem participar do nosso mercado. Então, hoje temos mais agentes participando além da Petrobras, que é um grande produtor, mas não é o único. O primeiro fator, então, é que nosso mercado é aberto com múltiplos agentes. Para termos uma ideia, hoje, 25% da produção de petróleo e gás no Brasil não é da Petrobras, mas de outras empresas. São mais de 40 empresas produtoras no país. Tem que se considerar que o Brasil é autossuficiente em petróleo, mas nem todo este petróleo é produzido pela Petrobras.
Outra questão é que o Brasil depende de importação de alguns combustíveis, especialmente diesel e gás de cozinha. A gente não é autossuficiente em derivados de petróleo em modo geral. Mesmo quando as refinarias operam com alta taxa de utilização — ou seja, quando nosso parque de refino está operando próximo ao máximo — ainda assim, nos falta diesel, falta gás de cozinha. Precisamos importar uma parcela relevante daquilo que a gente consome. Ao não fazer reajustes no mercado interno, a gente incorre na possibilidade de faltar esses dois combustíveis, por exemplo, uma vez que nenhum importador vai trazer esse combustível de fora tendo prejuízo. Quanto mais tempo fica defasado, maior a chance disso acontecer.
Para fechar, eu queria também lembrar que hoje a gente vive uma transição energética e que a competição com outros alternativos tem que ser colocado na balança. A competição com biocombustíveis, GNV, carro elétrico chegando... Temos múltiplos agentes com múltiplos combustíveis. Por isso, temos que levar em consideração que se a gente segura o preço de um, afeta todos os demais da cadeia. Gera uma distorção em toda cadeia produtiva. Isso faz com que tenhamos que mexer com o preço do combustível.
Só para relembrar: nosso mercado é aberto, com múltiplos agentes, nem toda produção de petróleo do país é da Petrobras e nós somos dependentes de importação de combustíveis, especialmente diesel e gás de cozinha."
Ouça o depoimento completo de Marcelo Gauto:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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