Desde o final de janeiro, os funcionários de uma agência de comunicação criada em Porto Alegre trabalham de segunda a quinta-feira ou de terça à sexta-feira. A Shoot — antiga Shoot the Shit — implementou há cerca de um mês, depois de um período de testes, uma jornada de trabalho de quatro dias por semana, com expediente de seis horas diárias.
— O mercado de serviços está saturado, não funciona igual a uma indústria, não somos máquinas. A verdade é que ninguém produz oito horas por dia no seu melhor. O que a gente fez foi olhar quantas horas a gente estava rendendo e colocou isso condensado em quatro dias. Só que isso não resultou em mais de oito horas, mas sim em seis horas diárias em quatro dias por semana — explica Artur Scartazzini, CEO da empresa.
Atualmente, a empresa conta com 11 pessoas na equipe, entre dois sócios e nove funcionários. Funcionando de maneira remota desde 2018 — ou seja, antes da pandemia — conta com uma equipe espalhada por Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte, Lisboa e Barcelona, de onde Artur conversou com a coluna. Para ele, a redução nos dias de expediente foi uma evolução do raciocínio de teletrabalho.
— A gente não contrata pessoas por disponibilidade de tempo. Cobramos que as pessoas entreguem o que a gente acorda com nossos clientes. Nosso setor comercial não comercializa mais do que 24 horas de trabalho por semana de cada funcionário. Desenhamos um processo muito bem estruturado que indica quantas horas cada pessoa vai precisar colocar em uma função, com bastante autonomia e transparência.
Para organizar esse processo, a empresa conta com ajuda de plataformas digitais que permitem que os funcionários indiquem em que estão trabalhando, quantas horas demandam em cada atividade e distribuam as tarefas entre si. Apesar da jornada de quatro dias, a agência trabalha de segunda a sexta-feira, uma vez que a equipe foi dividida em dois grupos. Um deles trabalha de segunda à quinta. Outro, de terça à sexta-feira. Assim, brinca o CEO, algumas pessoas ganham "dois sábados" e, outras, "dois domingos".
A mudança na jornada semanal já vinha sendo testada desde o ano passado em rodadas de aprendizado entre os funcionários. A redução de carga horária não interferiu no salário dos empregados. A faixa salarial da empresa é de R$ 2 mil a R$ 7 mil, o que, segundo Artur, corresponde ao mercado de publicidade de Porto Alegre.
— Todo mundo deseja trabalhar menos e de forma mais produtiva. A grande questão que a gente resolveu era um medo de ficar atrasado, de não estar disponível em um dia da semana. Mas quando dividimos em grupos e conseguimos atender todos os dias da semana, ficou muito mais fácil. As pessoas de dentro da empresa estão ainda aprendendo a fazer com os dias que elas ganharam, porque no início é estranho.
E desde que começou a circular a notícia de uma carga de trabalho menor, o banco de talentos da empresa cresceu bastante. Não há vagas abertas no momento, mas a empresa atualiza a situação pelo seu Instagram, no perfil @heyshootcc. Além das vagas por CLT, também contratam para trabalhos temporários em projetos específicos.
Mas afinal, o que a empresa faz?
A Shoot começou em 2010 como uma organização de intervenções urbanas e criativas em Porto Alegre e se transformou em empresa em 2014. Logo no início de sua história, eles ficaram conhecidos por projetos como o "Paraíso do Golfe", onde jogavam golfe em ruas emburacadas da cidade, e o "Que Ônibus Passa Aqui", em que colaram adesivos em paradas de ônibus da Capital para os próprios usuários indicarem, com caneta, as linhas que passavam na parada, à época em que não havia placas indicativas.
Quando se transformou em empresa, focou sua atividade em ajudar outras marcas a apoiarem e desenvolverem projetos sociais. Um exemplo foi a Tramontina. A Shoot desenvolveu um projeto para a gigante gaúcha chamado "Ferramentas que Fazem", em que apoiou coletivos pelo Brasil com ferramentas para que eles gerassem ainda mais impacto social com suas iniciativas. Com a Gerdau, a agência desenvolveu uma campanha para a empresa apoiar a ONG Teto doando pregos de aço para a construção de casas emergenciais em zonas de extrema pobreza do país.
— A gente faz campanha de marca, conectando marca a causas sociais, contando a história e narrativa. Basicamente a gente se transformou em um estúdio criativo de comunicação para impacto social e que atua e tem mesmo escopo que uma agência de publicidade, mas a gente não atende discursos vazios. Marcas que querem só dar discurso, a gente não antede. Sempre que a gente é chamado para dar só o discurso, propomos alguma ação que a marca possa fazer para poder se aproximar da causa de fato, e não ficar muito greenwashing [um termo que se refere a prática de empresas que falam que apoiam o meio-ambiente mas camuflam, por exemplo, o impacto de suas operações]. É isso que a gente vem fazendo desde 2014 como empresa.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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