A 63ª Feira do Livro termina agora e deixa um vazio na alma e um suspiro no coração. Ali, Porto Alegre se reúne e acolhe o Rio Grande num congraçamento em que os amigos se reveem, os desafetos se cumprimentam e novas amizades brotam entre livros e palestras. A feira é o único momento em que diferentes idades e classes sociais se igualam e dialogam até sem trocar palavras.
É desnecessário falar da importância do livro e seu papel na vida. Mas é fundamental lembrar que o livro – como fonte de sabedoria – está sob ameaça. A ânsia de tolice novidadeira das chamadas "redes sociais" (em que qualquer um vira especialista de qualquer coisa) tenta substituí-lo, sem perceber que, assim, corrói a base que formou as civilizações.
Mais ainda: o sabichão Doutor Google está em todas, resolve dúvidas em segundos, mas (como acolhe tudo) pode nos dar visões errôneas ou duvidosas. E nos arriscamos a beber vinagre como se fosse vinho francês!
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A Feira é o único momento em que diferentes idades e classes sociais se igualam e dialogam até sem trocar palavras.
Num sábado da Feira, autografei meu último livro durante três horas seguidas e quase todos me indagaram sobre os rumos tristes da política.
A resposta estava na própria Feira: no ritmo do país e do RS, a prefeitura desdenhou a única grande reunião de congraçamento, em que não se esbraveja nem se insulta como no alegre furor dos estádios, outro ponto de reunião. E nem sequer recolheu o lixo da praça… A Feira teve de contratar serviços próprios de limpeza numa área pública!!
Fiquei também longo tempo na fila de autógrafos, como no livro em que J.J. Camargo transforma em ternura seu cotidiano de consultório. Lembrei-me que Décio Freitas (na lucidez de historiador) se sensibilizava com os médicos que, no Rio Grande, povoam a literatura. De Ângelo Dourado e seu pungente relato da Revolução de 1893, aos romances de Dyonelio Machado, Cyro Martins, Moacyr Scliar ou outros mais, bem depois.
Há, ainda, os livros de outro médico, o cardiologista Fernando Lucchese, que deviam ser de leitura obrigatória a todos, como método de vida. O último, Coração: modo de usar, com o irônico subtítulo O Manual do Proprietário, nos faz conhecer o único importante dentro de nós – o viver saudável com o coração em paz.
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O livro que autografei na Feira, sobre a trajetória de um médico, será esmiuçado dia 22, ao final da noite de quarta para quinta-feira, na entrevista que Pedro Bial fez comigo sobre As Três Mortes de Che Guevara, na RBS TV.
A feira do coração estará ali também.