* Jornalista e escritor
O movimento "Fora Temer" cresce e nele estão, hoje, até os que – em repúdio ao estilo de Lula – pediram o impeachment de Dilma. Já quase não há quem não sinta repulsa até pelo tom de voz com que o presidente da República tenta nos engambelar ao defender o indefensável.
Mas adiantará substituir Temer por outras temeridades?
A Constituição exige que os candidatos presidenciais sejam filiados a partidos, que hoje são amontoados de hábeis negociantes dos bens públicos. Dão a isso o apelido de "política" e nem se envergonham da mentira. Alienados do mundo real, repetem sandices com a pompa de papagaios palradores.
A quem temos, hoje, nos comandos partidários ou em altos postos de governo, senão papagaios bons de fala ou aqueles empalhados de museu?
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Em 1966, na capital do Piauí, levaram-se a conhecer um papagaio que recitava "a fórmula da bomba-atômica". Em tom esganiçado, mandava somar X a Y, multiplicar mil vezes por K, dividir pelo valor de Py grego (3,1416) e, assim, por diante, em interminável bazófia que fazia rir e que os matutos do interior ouviam compenetrados, com medo de que aquilo virasse realidade e explodisse…
Agora, noutro século, a realidade explode em nossos rostos. Encurralados entre o "fora Temer" e o "fica Temer", não sabemos por onde optar – se pelo mal já conhecido, ou pelo mal a conhecer…
Sim, pois quais nomes despontam numa escolha indireta, pelo Congresso? O presidente da Câmara dos Deputados, investigado na Lava-Jato. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, um dos antigos diretores da holding e do banco do mafioso grupo JBS. O ex-ministro Nelson Jobim, que (antes de servir a Fernando Henrique e a Lula) revelou, de público, que como relator da Constituição de 1988, deu por aprovadas "partes nunca votadas pelos constituintes" e, assim, incorporadas à Carta Magna.
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Em eventual eleição direta, o sufoco seria ainda maior. E acabaríamos enforcados por nosso próprio voto, ao optar entre Lula e Bolsonaro – entre o pavor e o horror.
Se assim for, talvez só alguém da envergadura de Fernandinho Beira-Mar possa superar esse duo e nos alertar para o precipício que o atual sistema de partidos nos aponta como alternativa…
Sim, pois só filiado a "partido" pode ser candidato, reza a Constituição! Mas, que nome respeitável, acima do bem e do mal, existe na barafunda partidária atual? Quem, cujo passado guie o presente e abra portas ao futuro?
Em São Paulo, agora, as melhores cabeças pensantes de várias áreas unem-se em torno do respeitável jurista Modesto Carvalhosa como candidato à presidência, num mandato tampão que nos salve do bordel em que estão transformando a República. Há, porém, um tolo impedimento formal: Carvalhosa não é filiado a nenhum dos balcões de negócio registrados como partidos políticos…
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O país vive uma emergência grave, mas os tais de políticos tratam de tudo como se – nestes dias chuvosos – evitássemos a enchente abrindo o guarda-chuva.
Anos atrás, o irônico (ou cínico lúcido?) Antônio Carlos Magalhães, ACM, apelidou Temer de "mordomo de filme de terror" pela empáfia ao caminhar ou falar e pelo servilismo ao poder. Após a divulgação da fita gravada por Joesley Batista, da JBS (que o próprio presidente confirmou de público, dando apenas outra interpretação ao diálogo), a empáfia vocal atenuou-se e a testa se franziu. Desde então, Temer perdeu o perene sorriso pela comissura dos lábios, com que se atribuía um ar superior.
O que está em jogo, porém, não é ele. Somos nós. "Um fraco rei faz fraca a forte gente", advertia Camões. Aí está o ponto a temer, que nos leva à temeridade maior, além do próprio Temer.
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P.S.- O atraso e a ignorância, somados à criminosa cobiça dos grandes consórcios internacionais do carvão e dos combustíveis fósseis, levaram Donald Trump anunciar que os Estados Unidos se retiram do Acordo Climático de Paris.
A inteligência e a ciência regridem vários séculos pela insensatez de um maníaco.
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