O cotidiano da administração e da política virou uma confusão tão confusamente confusa que nem a redundância do pleonasmo define aquilo que está sendo confundido. Agora, na eleição municipal, os candidatos desfraldam bandeiras e promessas de futuro sem livrar-se, porém, dos absurdos do presente.
Em plena Semana Farroupilha nosso secretário de Segurança viajou ao Rio de Janeiro para lá aprender sobre o crime aqui no Rio Grande. Antes, crendo que a Brigada e nossa Polícia Civil são impotentes, o governador pediu a intervenção da Força Nacional de Segurança. Murcharam nossas façanhas e mandam os facínoras – o narcotráfico, a ignorância e seu filhote adulto, a bandidagem geral.
O curso intensivo de horas do secretário (em que deve ter aprendido, até, como apagar incêndio com sopro) lembra os diplomas de mestrado e doutorado oferecidos na internet, sem frequência nem currículo. Basta inscrever-se!
Ou recordam as lições de "leitura dinâmica" que nos fazem ler toda a Bíblia em três minutos. Quando presidente da República, Fernando Collor me assegurou que, pela leitura dinâmica, em oito ou dez segundos conhecia a íntegra de projetos de leis ou decretos, tendo assim, "mais tempo" para dedicar ao país...
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O secretário de Segurança aprendeu o que nesse curso instantâneo, tipo café solúvel? O Rio disputa com São Paulo a primazia de ter a polícia mais nefanda do país. Lá, o êxito do mata-mata do gatilho fácil é tanto que, todo dia, o narcotráfico e a bandidagem se multiplicam. E as ''balas perdidas'' vitimam crianças e anciãos!
Aqui, a execução no Salgado Filho é a nova proeza do crime (ao estilo dos ''matadores'' do Nordeste), mas uma autoridade responsabiliza a outra, como se o aeroporto fosse terra de ninguém. O governo estadual diz que a vigilância não cabe à Brigada, mas à Anac, administradora do aeródromo, e à Polícia Federal, mesmo sendo corpo não-armado.
Em erudito "juridiquês", cada lado joga na parte oposta a culpa pelo que não foi feito. Num jiu jitsu burocrático, citam leis e decretos para ''tirar o corpo fora'', sem importar-se com o crime nem com os criminosos.
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Sem um plano conjunto concreto, o crime cresceu na última década sob o beneplácito dos políticos que governam o Estado, a Capital e área metropolitana.
Na Capital, assalta-se nas ruas junto à prefeitura, à vista do gabinete do prefeito, ou na Praça da Matriz, à vista do governador. De dia, ao atravessar a Praça da Alfândega, toda mulher com bolsa e salto alto se expõe a ser atacada e roubada. Ou, à noite, estuprada num domínio do crack e outras drogas. As barracas de ambulantes com produtos contrabandeados, o lixo pelo Centro ou a esburacada Rua da Praia (outrora elegante) completam o cenário.
Mas, nas obras da Copa do Mundo, sem licitação ou fiscalização financeira, o prefeito contou que toda semana telefonava à Suiça para relatar à Fifa como andavam as coisas. Oxalá não tenha falado com José Maria Marin ou algum dos outros presos, hoje, nos EUA por corrupção!
Só agora há carros da Brigada nas ruas centrais. A Guarda Municipal nada faz nos assaltos: vigia só os prédios do município, nem sequer os estaduais e federais. Os ''azuizinhos'' da EPTC multam a esmo, sem orientar o caótico trânsito e sem saber que a fumaça de caminhões e ônibus a diesel é a violência maior, pois afeta a saúde de todos.
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Essa confusa confusão confunde até o já confundido e chega à propaganda eleitoral. A divisão de espaço no rádio e TV foi criada para dar igual oportunidade a todos, mas beneficia os ''grandes'' já no poder, como se garantisse o domínio do mais forte, não a exposição de ideias.
Se o palhaço Tiririca, o deputado mais votado do Brasil, fosse agora ''prefeitável'', teria mais espaço que qualquer um. Mas se vivêssemos em democracia como a Alemanha, França, Itália, Portugal e outros europeus, o PT, PMDB e PP (e por ricochete o PSDB) não teriam coragem de apresentar-se em lugar algum devido aos escândalos em que estão envolvidos.
E assim, a confusa confusão chega a todos nós e a nossos prefeitáveis.
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