Aos poucos a dupla Gre-Nal coloca em prática o sistema da biometria aqui no Rio Grande do Sul. Por enquanto, apenas no setor das organizadas. O objetivo é ter a identificação e controle de quem acessa os estádios. O cadastro biométrico funciona a partir da captura da impressão digital. As informações de cada torcedor ficam armazenadas em um banco de dados.
Essa é a melhor forma, por exemplo, de evitar o acesso de pessoas banidas dos estádios, e de identificar rapidamente os baderneiros dentro das arenas. No Brasil, quem largou na frente foi o Atlético-PR, que hoje tem a biometria funcionando em 100% da Arena da Baixada. Os primeiros relatos são de sensação maior de segurança.
Recentemente, um vândalo foi identificado em poucos minutos. Para entender melhor como estão as coisas por lá, conversei com o diretor de operações do clube, Fernando Volpato. Da sua sala no estádio, ele explicou detalhadamente todo o funcionamento do projeto, e bem-humorado falou até sobre a presença do juiz Sérgio Moro, torcedor atleticano, nas arquibancadas. Nem ele escapou da biometria.
Essa experiência da implantação da biometria em toda a Arena trouxe que benefícios para o Atlético?
Nós começamos cedo aqui. No final de 2014 já iniciamos com as torcidas organizadas. A experiência foi bem sucedida, nós percebemos que houve uma redução da violência no setor das organizadas, e com esse aprendizado durante os dois anos seguintes decidimos implementar em todo o estádio, inclusive para a torcida visitante. Fizemos um período de adaptação durante uns seis meses cadastrando os sócios e estabelecemos uma parceria com os órgãos de segurança pública do estado. Recentemente no Atle-Tiba inauguramos o sistema em toda a Arena.
Foi muito caro implantar o sistema em todo o estádio?
Varia muito de estádio para estádio, com o número de catracas e portões e o tipo de tecnologia que vai ser usada. Para o Atlético agora foi apenas uma questão de ajuste, fizemos dois novos portões para equilibrar melhor o acesso. É difícil falar em um número exato.
Como foi a aceitação do torcedor?
Nós tivemos uma certa rejeição inicial de parte dos sócios porque eles tinham o hábito de emprestar o seu cartão para que outra pessoa fosse no seu lugar, e isso agora não pode mais acontecer. É uma resistência no começo, mas aos poucos as pessoas vão perceber os benefícios com a segurança e a tranquilidade. O cambismo, por exemplo, acabou. Desde a compra do ingresso o torcedor é obrigado a colocar o CPF, e a verificação é feita na catraca.
Já aconteceu um fato de violência dentro do estádio que possibilitou a identificação rápida com a ajuda da biometria?
Agora na inauguração do sistema em todo o estádio, no clássico, nós tivemos uma situação. Na torcida visitante, uma pessoa tentou quebrar cadeiras, nós identificamos rapidamente pelas imagens, nós voltamos as imagens até o momento da entrada no estádio, o sistema da catraca é sincronizado e ali já tem o CPF desse torcedor e pela biometria temos a comprovação de quem foi. Então é muito rápido e confiável. Nesse caso, no clássico, em poucos minutos fizemos a identificação.
Acompanhamos recentemente as imagens do juiz Sérgio Moro, de boné e óculos escuros, para tentar evitar o assédio que certamente seria grande, acompanhando um jogo do Atlético na Arena. Logo depois, com a biometria se teve certeza que era ele mesmo. Ele é presença constante aí no estádio?
É porque temos o controle de absolutamente todo mundo que entra no estádio, seja um juiz, seja um torcedor comum, seja quem for. Fica tudo registrado. Mas a presença dele não é toda hora (risos).
O senhor acha que todos os grandes estádios brasileiros vão ter que passar por este processo da biometria?
Eu acredito que sim, porque nessa questão da violência no futebol, os clubes estão perdendo esse jogo. Se discute muito esse assunto, mas medidas realmente concretas não tem. E a punição fica com os clubes. Então os cubes precisam evoluir nos mecanismos para ter esse controle. Aqui, o sistema de vídeo para ver o que acontece dentro e fora do estádio já tinha sido fantástico. Só que tinha uma ponta solta. Você tinha a imagem do rosto daquela pessoa, mas quem é ela? Qual o CPF dela? Essa parte faltava, agora temos. Também tem situações de restrição de entrada de torcedores. Os clubes não tem como fazer essa proibição, porque o torcedor pode comprar ingresso para qualquer setor. E agora a biometria já resolve isso antes do acesso, na hora da compra já se resolve. Já vai ser proibido ali mesmo.