É um problema grave de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que mais de 40% da população mundial com mais de 15 anos consomem bebidas alcoólicas, contingente de 2 bilhões de pessoas.
Entre elas, estão as que fazem uso abusivo, termo técnico cuja definição varia entre os países. Segundo o doutor Riad Younes, cirurgião abstêmio: "Uso abusivo é o do paciente que bebe mais do que o seu médico".
O consumo excessivo está associado a aumento da mortalidade geral e a mais de 200 doenças, das quais ele é causa necessária em 40. A variedade é grande: vai das crônicas (hepáticas, cardiovasculares, câncer), às transmissíveis (tuberculose, pneumonia, HIV/aids), aos acidentes e à violência interpessoal. No Brasil, o álcool é o sétimo fator de risco mais importante para mortalidade: 5,5% do total de mortes.
A principal característica do alcoolismo é a perda de controle. São aquelas pessoas que às vezes nem bebem todos os dias, mas quando começam não conseguem parar.
O Ministério da Saúde criou em 2011 um Plano de Ações Estratégicas, em que uma das metas era a de reduzir em 10% a ingestão abusiva, até o ano de 2022. De acordo com o Plano, ingestão abusiva é "o consumo igual ou maior do que cinco doses em uma única ocasião para os homens, e igual ou maior do que quatro para as mulheres" (uma dose = 12 g de álcool puro).
Luiza Sá e Silva e colaboradores do Ministério da Saúde acabam de publicar os resultados colhidos em duas avaliações: a primeira realizada em 2013, entre 60.202 participantes de ambos os sexos, com 18 anos ou mais. A segunda em 2019, com 88.513 mulheres e homens da mesma faixa etária.
No ano de 2013, a prevalência do consumo abusivo nos 30 dias anteriores à pesquisa era de 13,7%. No ano de 2019, esse número, em vez de cair, aumentou para 17,1%.
Tanto num ano como no outro, a prevalência do abuso foi mais alta no sexo masculino, na faixa etária dos 18 aos 39 anos, nos negros, nos indivíduos com mais escolaridade, residentes em áreas urbanas e nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
De 2013 a 2019, as prevalências aumentaram em todas as categorias sociodemográficas. Os maiores aumentos ocorreram no sexo masculino (21,6% para 26%), nas mulheres (6,6% para 9,2%) e na faixa dos 25 aos 39 anos (18,9% para 23,7%).
Em relação à escolaridade, a prevalência é mais baixa na população sem instrução ou com curso fundamental incompleto. Apesar de ter aumentado de 11,1% para 12,7%, essa prevalência foi inferior à daqueles com curso superior. Neste grupo mais instruído o consumo excessivo cresceu 30% no período.
Em 2019, a prevalência foi mais alta nas regiões Centro-Oeste (19,6%) e Sudeste (17,4%). A mais baixa foi na região Sul (14,7%).
Na maioria dos Estados, a prevalência cresceu. Em 2019, os maiores índices foram os de Sergipe (23,7%), Mato Grosso do Sul (21,7%) e Mato Grosso (21,5%). Em Sergipe, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul, a prevalência entre os homens ultrapassou 30%.
Conduzida com dezenas de milhares de participantes, o estudo mostra que os brasileiros bebem cada vez mais. Os números se referem ao consumo excessivo nos 30 dias que antecederam a pesquisa. É evidente que existem diferenças entre um homem que tomou cinco ou mais doses (quatro ou mais se for mulher) uma única vez, nesse período, e outro que o faz todos os dias. No entanto, ultrapassar as quantidades estipuladas na pesquisa, ainda que ocasionalmente, é marcador de risco para alcoolismo.
A principal característica do alcoolismo é a perda de controle. São aquelas pessoas que às vezes nem bebem todos os dias, mas quando começam não conseguem parar. São os que se embriagam mesmo quando juram que nessa noite não beberiam.
Um país que vende 1 litro de cachaça popular a preços ridículos como o nosso está fadado a conviver com legiões de dependentes de álcool que sobrecarregam o sistema de saúde, além de causar danos sociais e tragédias na vida familiar.