Tomar as duas doses da mesma vacina tem sido a recomendação em todos os países. Recebeu a primeira dose da vacina da Oxford-AstraZeneca, a segunda deve ser a mesma. O mesmo vale para a da Pfizer e para a CoronaVac.
Um grupo de pesquisadores na Espanha decidiu avaliar a possibilidade de imunizar a população com a combinação de vacinas de fabricantes diferentes.
No início de abril deste ano, o Spanish CombivacS Trial reuniu 663 participantes que já haviam recebido a primeira dose da vacina Oxford-AstraZeneca.
Essa vacina é preparada a partir de um adenovírus que infecta chimpanzés, no qual foram introduzidas as instruções para que as células do organismo produzam uma proteína da cápsula do coronavírus, que estimulará o sistema imunológico da pessoa imunizada.
Entre os participantes, 431 foram randomizados (sorteados ao acaso) para receber, como segunda dose, a vacina fabricada pela Pfizer-BioNTech – baseada na tecnologia do RNA mensageiro –, pelo menos oito semanas depois da dose da AstraZeneca. Um grupo de 232 pessoas que não receberam a segunda dose serviu de controle.
A vacina da Pfizer provocou um estímulo intenso no sistema imunológico. Enquanto no grupo controle (vacinado apenas com a primeira dose da AstraZeneca) os níveis de anticorpos contra o coronavírus permaneceram constantes, nos que receberam a dose de reforço da Pfizer houve produção de anticorpos em níveis mais altos.
Nos testes laboratoriais, esses anticorpos demonstraram atividade neutralizante, isto é, foram capazes de reconhecer e inativar o Sars-CoV-2.
Os autores também compararam a produção de anticorpos daqueles imunizados com a combinação das duas vacinas (AstraZeneca-Pfizer), com os que receberam as duas doses da mesma vacina (AstraZeneca-AstraZeneca). A produção de anticorpos demonstrou mais eficácia nos participantes que combinaram AstraZeneca com Pfizer.
Não foi feita a comparação na produção de anticorpos, nos casos de administração de duas doses com a vacina da Pfizer.
A técnica já foi empregada com bons resultados contra outras doenças. É o caso da imunização contra o vírus ebola.
A adição de duas preparações obtidas por tecnologias diferentes não provocou efeitos indesejáveis mais graves do que aqueles esperados para a administração de cada vacina.
A técnica de “misturar” vacinas preparadas por tecnologias diversas já foi empregada com bons resultados contra outras doenças. É o caso da imunização contra o vírus Ebola.
O uso da combinação de duas vacinas teria a seguinte vantagem teórica: evitaria o inconveniente da administração de duas doses da vacina AstraZeneca e de outras preparadas com a mesma tecnologia: a possibilidade de a resposta imunológica contra o adenovírus usado como vetor reduzir a eficácia da segunda dose.
No caso do emprego de duas doses da vacina Pfizer, o risco de efeitos indesejáveis é maior na segunda dose, como revelou um estudo semelhante que está sendo conduzido no Reino Unido.