Nunca vi epidemia de um vírus esquisito como esse. A variedade de quadros clínicos é enorme. Cerca de 40% dos infectados permanecem assintomáticos; outros 40% desenvolvem sintomas leves semelhantes aos das viroses respiratórias corriqueiras ou aos das gripes fortes que nos jogam na cama. Em ambos os casos, regridem espontaneamente em duas ou três semanas.
O perigo corre por conta dos outros 20%, que exigirão internação hospitalar e até ventilação mecânica em unidades de terapia intensiva. Nessas eventualidades, a fase de recuperação passa de um mês.
Começamos a aprender, no entanto, que mesmo naqueles com poucos sintomas e evolução benigna a doença pode causar complicações tardias que se arrastam por semanas. Um estudo publicado no Morbidity Mortality Weekly Report, dos Estados Unidos, mostrou que 14 a 21 dias depois do diagnóstico de COVID, 35% dos pacientes se queixavam de não ter voltado às condições de saúde de antes.
Sintoma comum na fase aguda, a sensação de fôlego curto pode durar mais de duas semanas.
No Reino Unido, o UK COVID Symptom Study revelou que 10% relataram sintomatologia persistente por mais de três semanas. Os resultados foram publicados no British Medical Journal. Os três sintomas mais comuns nesses casos foram tosse seca, febre baixa e fadiga, que evoluíram com períodos de remissão e de reagudização, durante semanas ou meses. Fôlego curto, dores no tórax, cefaleia, dificuldades neurocognitivas, dores musculares, fraqueza, alterações gastrointestinais, lesões dermatológicas, dificuldade para controlar o diabetes, tromboses, embolias pulmonares, depressão, ansiedade e outros transtornos psiquiátricos tiveram frequência variável.
Sintoma comum na fase aguda, a sensação de fôlego curto pode durar mais de duas semanas. A recomendação é controlar a oxigenação do sangue com os oxímetros, dispositivos simples de usar, à venda em farmácias e disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde. Colocado na ponta do dedo, o oxímetro mede a saturação de oxigênio na corrente sanguínea. Valores de 95% ou mais são considerados adequados, abaixo desse número há necessidade de avaliação médica e suplementação de oxigênio.
Manifestações cardiopulmonares estão presentes em pelo menos 20% dos pacientes hospitalizados. As mais comuns costumam ser miocardites, pericardites, infartos do miocárdio, embolias pulmonares, insuficiência cardíaca e arritmias. São mais prevalentes quando existe doença cardiopulmonar prévia.
O vírus pode induzir um estado de hipercoagulabilidade sanguínea, causadora de tromboses, embolias pulmonares e AVCs isquêmicos. Sequelas neurológicas são mais raras. Entre elas, tonturas, fadiga, convulsões, neuropatias e a sensação descrita como “lentidão de raciocínio”.
A simples possibilidade de ser infectado provoca ansiedade, depressão, estresse, solidão, isolamento social, insônia, quebra da rotina diária, estresse pós-traumático. Nas pessoas que ficaram doentes esses transtornos se tornam mais evidentes e duradouros.
Definitivamente, a covid-19 não é uma gripezinha.