Hipertensão é doença traiçoeira. Caminha silenciosa, avariando lentamente a camada interna das artérias, as terminações nervosas e os glomérulos renais, até provocar danos que levam ao infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência renal e insuficiência cardíaca entre outros males.
Aos 65 anos de idade, a metade das mulheres e dos homens brasileiros sofre desse mal, prevalência que não para de aumentar com a idade, daí em diante.
Embora haja várias classes de medicamentos hipotensores eficazes, a adesão ao tratamento é precária. Muitos o fazem de forma irregular, quando não decidem interrompê-lo por conta própria.
Um grupo espanhol acaba de publicar no European Heart Journal, os resultados do Hygia Chronoterapy Trial, realizado com o objetivo de testar se os horários de tomada das medicações guardam relação com o risco de doenças cardiovasculares.
Os pacientes puderam receber qualquer associação de medicamentos, desde que aprovados para uso em doses diárias únicas. Os critérios para o diagnóstico de hipertensão arterial foram os seguintes:
1) Durante a vigília: média de pressão sistólica maior ou igual a 13,5 cm ou pressão diastólica maior ou igual 8,5 cm.
2) Durante o sono: média da pressão sistólica igual ou acima de 12 cm ou diastólica igual ou acima de 7 cm.
3) Pacientes já em tratamento para hipertensão.
Realizada em diversos centros da Espanha, a pesquisa dividiu 19.084 pessoas com hipertensão, em dois grupos. O primeiro foi orientado a tomar todos os medicamentos (um ou mais) de uma vez só, ao deitar. No outro grupo, todos os medicamentos foram tomados pela manhã, ao acordar.
Nos retornos para consulta (pelo menos uma por ano), a pressão foi monitorada por 48 horas, durante um acompanhamento que durou em média 6,3 anos, período no qual ocorreram 1.752 casos de doença cardiovascular: infarto do miocárdio, revascularização (por stent ou ponte de safena), insuficiência cardíaca, AVC ou morte.
Depois de ajustar os números de modo a afastar a influência de outros fatores de risco para doenças cardiovasculares (idade, sexo, diabetes, doença renal crônica, fumo, colesterol HDL, pressão máxima durante a vigília e o sono e a existência de eventos cardiovasculares prévios), os autores concluíram que a tomada noturna reduziu o risco dos seguintes eventos: morte por doença cardiovascular (redução de 46%), infarto do miocárdio (34%), revascularização das coronárias (40%), insuficiência cardíaca (42%) e acidentes vasculares cerebrais (49%).
Ao lado desses benefícios, a ingestão rotineira ao deitar provocou queda da pressão sistólica no decorrer do período de vigília e também durante o sono.
Conclusão: se você que sofre de hipertensão, recebeu uma prescrição de um ou mais medicamentos que devem ser ingeridos de 24 em 24 horas, o ideal é tomá-los de uma única vez, na hora de dormir. Só não pode esquecer nem pegar no sono antes.