Diabetes não tem cura, aprendemos na faculdade.
Talvez, por essa razão, tenhamos demorado tanto para reconhecer que a redução cirúrgica do estômago provoca remissões tão prolongadas da doença, que em nada se diferenciam de curas definitivas.
À medida que a epidemia de obesidade se disseminou e as cirurgias bariátricas ganharam popularidade, as evidências de controle da glicemia por vários anos sem medicação se acumularam, mesmo em pacientes com quadros de diabetes mais graves, dependentes de associações de hipoglicemiantes e insulina.
Acaba de ser publicado na revista Diabetologia um estudo de coorte dinamarquês, que comparou 1.111 pacientes obesos com diabetes do tipo 2 submetidos à cirurgia bariátrica, com um grupo de 1.074 pessoas obesas, com diabetes tipo 2, que não receberam tratamento cirúrgico (grupo controle).
Os critérios para definir remissão da doença foram:
– hemoglobina glicada mantida abaixo de 6,5% sem o uso de medicamentos;
– ou hemoglobina glicada mantida abaixo de 6,0% com o uso de apenas metformina (uma droga hipoglicemiante).
Decorridos seis meses da cirurgia, 65% dos pacientes entraram em remissão do diabetes, número que, nos seis meses seguintes, aumentou para 74%.
Decorridos seis meses da cirurgia, 65% dos pacientes entraram em remissão do diabetes. Em um ano, aumentou para 74%.
Com índices de complicações ao redor de 10%, as cirurgias bariátricas se tornaram bem mais seguras nos últimos anos.
Os 26% que não obtiveram remissão da doença nos primeiros 12 meses apresentavam os seguintes fatores de risco:
– idade acima de 60 anos;
– duração do diabetes superior a cinco anos;
– hemoglobina glicada igual ou acima de 7% antes da cirurgia, associada ao uso de outras drogas além da metformina, para controle da glicemia;
– necessidade de usar insulina antes da cirurgia.
Entre os que chegaram à remissão no fim do primeiro ano depois da cirurgia, 27% não conseguiram mais mantê-la até completar cinco anos da cirurgia – portanto, permaneceram em remissão 73% dos que a atingiram no primeiro ano de pós-operatório.
Os autores avaliaram, nos dois grupos, as complicações associadas ao diabetes: microvasculares (retinopatia diabética, neuropatia periférica e nefropatia) e macrovasculares (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e obstruções vasculares periféricas e abdominais).
O grupo operado teve perto da metade das complicações microvasculares (retinopatias, neuropatias e nefropatias) e cerca de 20% a 30% menos de eventos macrovasculares (infarto, AVC, doenças vasculares) do que o grupo controle.
Com índices de complicações ao redor de 10%, as cirurgias bariátricas se tornaram bem mais seguras nos últimos anos. Enquanto o controle do peso corpóreo e da glicemia no diabetes, baseado exclusivamente em mudanças do estilo de vida, é frustrante na maioria das vezes, a cirurgia de redução do estômago (nesses casos chamada de metabólica), deve ser considerada em pessoas com diabetes tipo 2, nas seguintes situações:
– índice de massa corpórea (IMC = peso/altura x altura) igual ou acima de 40 kg/m2;
– IMC entre 30 kg e 39,9 kg/m2, mas com hiperglicemia inadequadamente controlada com medicamentos e mudanças no estilo de vida.