Sobre o saco de pipocas lançado no rosto dele, Neymar tem toda a razão. Quem adota este tipo de atitude como crítica é um derrotado e mal-educado que, se tiver sorte, criará filhos capazes de não seguir o exemplo do pai como cidadão. Pode-se acusar o único extraclasse brasileiro em atividade de tudo, menos de ser pipoqueiro.
Na Copa do Catar, recuperou um tornozelo que parecia uma bola de futsal de tão inchado em tempo recorde. Com dores e limitações, jogou pelo time todo contra a Croácia. A Seleção foi eliminada, mas a culpa de Neymar foi zero. Esse é um ponto. O outro é que acabou.
Não apenas Neymar, mas uma Era no futebol. Durante mais de uma década, o mundo se dividiu entre Messi e Cristiano Ronaldo na prateleira dos supercraques. Hoje não há mais dúvidas sobre quem foi melhor — Messi, é claro —, mas havia unanimidade planetária quanto ao sucessor deles.
Era questão de tempo para o brasileiro enfim ganhar a Bola de Ouro de melhor do mundo. Ao sair do Barcelona e escolher o PSG, sairia da corte de Messi para não mais ser príncipe, e sim o rei. Deu tudo errado. Desde lá, aos poucos, Neymar vem afundando a biografia até o fundo do poço.
E qual é o fundo do poço? Não ser capaz nem de resolver um jogo contra a esquálida Venezuela, com o agravante de ser pelas Eliminatórias Sul-Americanas e em território brasileiro, em Cuiabá. Dando um passo atrás, não há surpresa. Neymar é um fracasso até na amadora liga árabe, que mescla veteranos com perebas e outros nem tão velhos, mas sem preocupação competitiva. Se você vê exagero ou má vontade do colunista, recomendo ver um jogo do Sauditão. O Brasileirão vira Champions League em velocidade. Até admito a hipótese de que a ruindade geral contamina os melhores.
É impossível um bom jogador não perder a paciência no futebol da Arábia Saudita e desistir daquela arremetida a drible ou tabela de primeira. Melhor pensar nos petrodólares por minuto pingando na conta. Compreensível. Mesmo assim, o Neymar do Al Hilal é patético. Caminha em campo. Erra passes. Fica longe da área. Cai a cada tranco não por simulação, mas falta de força. A câmera fecha nele, como se viu em Cuiabá, e o rosto passa a impressão de cansaço. Reclama da arbitragem. Discute com colegas do time adversário sem necessidade. Aceita qualquer provocação boba.
Na vida pessoal, com a companheira grávida, deixa-se fotografar em noitadas com mulheres e amigos. Um desrespeito com a mãe de seu segundo filho. A ideia que passa é: desistência. O projeto, após o contrato árabe, no fim de 2024, é jogar em nível de competição na Europa a tempo de chegar bem na Copa de 2026. Mas será possível retomar o nível profissional após dois anos de invisibilidade? Não se pode duvidar de craques, e Neymar é um deles. Que se dê esse desconto. Mas há uma diferença abissal entre ele e craques como Messi, campeão no Catar aos 36 anos.
Lionel — e também CR7 — acionou o modo aposentadoria após se esgotarem todas as possibilidades pela Argentina. Cristiano fracassou no Catar, mas brigou pela última vez com Portugal após um ciclo inteiro em ligas competitivas. Vinha rendendo menos, só que não por desistência voluntária, e sim do próprio corpo perto dos 40. Neymar, não. Tem biotipo e idade para jogar em alto nível, mas desistiu. A prova foi esse empate deprimente do Brasil contra a Venezuela. Tudo bem que a Seleção de Fernando Diniz leva gol da Bolívia e só ganha do Peru com gol de escanteio ao apagar das luzes, mas a Venezuela?
Sem essa de melhor geração vinotinta de todos os tempos. A frase passa a falsa ideia de que o time da Venezuela é bom. Não é o caso em um país onde o esporte popular é o beisebol. Por mais desorganizado que esteja o Brasil desde a Copa, sempre jogando pouco, um jogador como Neymar não conseguir decidir nem contra a Venezuela tem muito jeito de fim da linha. Para a torcida, uma pena. Para o camisa 10 e tantos outros brasileiros que não seguiram o caminho de Messi e CR7, na perseguição do sonho de erguer uma Copa do Mundo pelo seu país, a riqueza parece compensar tudo.