O Grêmio decidiu escalar time reserva para uma partida de Libertadores. Empatou em 1 a 1 com o Guaraní, do Paraguai, em Assunção, com Bressan na zaga, Michel entre os volantes e Bruno Cortez na lateral-esquerda. Foram nove reservas. Cito alguns só para visualizar melhor como foi um time diminuído em relação ao que poderia ser.
Dos que saíram jogando, apenas Marcelo Grohe e Edílson ostentavam a condição de titulares. Pedro Rocha entrou no segundo tempo, para marcar o gol de empate.Deu tudo certo, mas o fato é que, em nome de se garantir 100% para este domingo, diante do Novo Hamburgo, no Gauchão, o Grêmio se arriscou na Libertadores. Tanto se arriscou que o titular Marcelo Grohe pegou até pensamento, assim como o titular Pedro Rocha teve de sair no banco para resolver a parada, uma parada que os reservas Lucas Barrios e Fernandinho, mesmo com o gol à disposição, não resolveram.
Em 1995, o Grêmio disputou o Campeonato Gaúcho com um time apelidado de Banguzinho, repleto de suplentes. Alguns nem seguiram carreira. Os mais velhos, com certeza, lembrarão. Seus dirigentes arrostavam que Libertadores era outra história, e que Gauchão tinha todo ano. Nada podia ser mais importante do que o banquete continental, o atalho para Tóquio.
O ex-presidente Fábio Koff carimbou o Gauchão de cafezinho. Se a casa servisse cafezinho depois da refeição principal, tudo bem. Do contrário, tudo bem também. Era legal, bacana – mas dispensável. Havia também, no Banguzinho de 22 anos atrás, o tempero da rivalidade. O Inter vivia fase terrível. Só na década seguinte, a partir de Fernando Carvalho, decolaria para ganhar a América e o mundo. Nos anos 1990, parecia condenado à divisa com Santa Catarina.
O termo Banguzinho ficou na história porque o time de reservas sagrou-se campeão gaúcho daquele ano, como se sabe. Por isso brinquei, no dia seguinte ao empate gremista no Paraguai: El Banguzito. O próprio Grêmio, quem diria, elegendo uma partida de primeira fase de Libertadores de cafezinho, deixando para o Gauchão a grife de banquete.
Na véspera, o Inter tinha segurado D'Alessandro e Edenilson no Itaquerão, diante do Corinthians, mesmo em desvantagem na corrida por vaga nas oitavas de final da Copa do Brasil, após empatar em 1 a 1 no Beira-Rio. Isso em nome de aumentar suas chances para este domingo, contra o Caxias, no Centenário.
Tudo em nome do Gauchão.
Não importam os motivos. Um deles é o caminho para a Libertadores. No passado, só campeão e vice brasileiro a disputavam. Hoje, não. Há vários. O Atlético-PR chegou em 7º lugar no Brasileirão e está singrando o continente. Disputar Libertadores já não é tão raro assim. Se não rolar este ano, tem o ano que vem.
Há, também, a questão local. Seria constrangedor o Grêmio deixar o Inter ser hepta, ainda mais com o rival na Série B. E o Inter luta por isso: a sequência superlativa e o constrangimento tricolor. Por fim, é preciso olhar a força do Interior em 2017. Se Grêmio e Inter não focarem 100% em Novo Hamburgo e Caxias, assistirão à final no sofá de casa. Que Libertadores, que nada. Que Copa do Brasil, que nada. O Gauchão, quem diria, virou Copa do Mundo.