Ainda estava deitado quando meu celular apitou, na manhã de domingo. Era o meu amigo Rodrigo de Assis, advogado competentíssimo e gremista devotadíssimo, que enviava a seguinte mensagem:
"O Luan vai jogar".
Só.
Não precisava mais. Luan em forma, atento e bem assistido faz toda a diferença, no time do Grêmio.
Neste domingo, ele e Everton construíram a vitória na frente, enquanto o trio Grohe, Kannemann e Geromel a asseguraram atrás.
Afora isso, o Grêmio mostrou mais defeitos do que qualidades. Alguns defeitos gravíssimos – o clube simplesmente não tem centroavante nem lateral-direito. Um amadorismo espantoso para um time que é campeão da América. Urge a improvisação nessas posições. Ramiro sacrificado na lateral, Thonny Anderson de centroavante, qualquer coisa. O fato é que, com esses que têm jogado, o Grêmio entra em campo com dois jogadores a menos.
Para arrematar, Jailson jogou mal – de novo. E Cortez vacilou na marcação – de novo. O Inter só não venceu o clássico porque foi surpreendido pela agressividade de Everton e Luan no primeiro tempo. No segundo, ao corrigir os defeitos do lado direito da sua defesa, o Inter se agrandou, ganhou todas as divididas e todos os rebotes e confinou o Grêmio em sua área. Não empatou o jogo porque, realmente, Kannemann e Geromel formam, talvez, a melhor dupla de zaga do planeta. Eles parecem infalíveis.
Olhando para os dois times, observando como eles se comportaram no clássico, é visível que o Inter tem mais chances de vencer os dois Gre-Nais que definirão quem continua no campeonato. Porque é muito difícil para um time vencer quando entra com a escalação tão enviesada, que é o que vem ocorrendo com o Grêmio. É como se o juiz expulsasse dois antes de o jogo começar. A vitória de ontem foi quase fortuita.
Isso de colocar tamanho peso sobre alguns jogadores, como Madson e Jael, parece crueldade, e talvez até seja. Seria mais fácil tecer considerações genéricas, sem citar nomes. Mas é exatamente por essa razão que a profissão deles é tão valorizada. Suportar a pressão é parte do trabalho do jogador de futebol profissional.
Madson ainda pode evoluir, ser lapidado até retificar o que está torto e adensar o que está reto. Mas, no momento, não tem condições de ser titular. E Jael, esse decerto que é útil. É um jogador forte, cheio de iniciativa. Mas tem evidentes deficiências técnicas. Jael só funciona quando entra nos últimos 15 minutos de partida, em circunstâncias especialíssimas.
Quanto ao Inter, o jogador que mais sofreu foi Dudu. Lembrou-me o velho Cláudio Radar, que, nos anos 70, passou um Gre-Nal inteiro envolvido pelo trio Vacaria-Lula-Carpegiani, no lado direito da defesa do Grêmio. Ele gritava por ajuda, mas os zagueiros e os volantes estavam atarefados com a marcação no meio, onde havia Flávio Minuano, Escurinho e Valdomiro entrando em diagonal. O Inter acabou vencendo e, das cadeiras do Grêmio, o então governador Sinval Guazzelli disse alto:
– Estamos sem lateral-direito.
Foi o fim de Cláudio Radar no clube.
Dudu passou por algo igual, ontem. Foi vítima, mais do que culpado.