Os petistas defendem as diretas já achando que Lula seria eleito com certeza. Na verdade, Bolsonaro seria eleito com certeza.
Lula, escrevi isso em outras oportunidades, perdeu o trunfo que lhe permitiu a vitória no passado: a aliança com a classe média. A famosa Carta aos Brasileiros, lançada por ele durante a campanha de 2002, foi o estatuto dessa aliança. Isso não existe mais. Lula jamais será eleito presidente outra vez. O PT jamais elegerá outro presidente.
Bolsonaro seria eleito presidente, se houvesse eleições em 2017, por dois motivos. O primeiro, pelo ódio que essa mesma classe média passou a sentir do PT.
O ódio, sabe-se, cega. As pessoas deixam de enxergar que o objeto do seu ódio também pode ter boas qualidades. Assim, as boas qualidades do PT, ou as coisas boas que o PT defende, se tornam igualmente objeto de ódio. É um pensamento binário e reconfortante, de tão fácil. Uma espécie de teorema:
"Eu sou contra o PT.
O PT é a favor do Bolsa Família.
Logo, sou contra o Bolsa Família".
Bolsonaro se consagrou ao afrontar o PT de todas as formas, algumas inclusive grosseiras. Então, as pessoas, querendo afrontar o PT, se acercam de Bolsonaro.
Esse é o motivo número 1 pelo qual esparramo minha convicção na vitória de Bolsonaro, caso houvesse diretas já.
O motivo número 2 é o tempo. Uma eleição feita de afogadilho tira do eleitor o tempo suficiente para conhecer os candidatos. Bolsonaro é um homem que, entre outros despautérios, já se manifestou a favor da tortura, da ditadura e do fechamento do Congresso. Uma busca distraída no YouTube permitirá ao leitor-eleitor ouvir dele a seguinte declaração:
– Através do voto, você não vai mudar nada neste país. Você só vai mudar se um dia nós partirmos para uma guerra civil. E fazendo um trabalho que o regime militar não fez: matando uns 30 mil! Começando com o FHC!
Esse quilate de pensamento só é processado, maturado e finalmente avaliado pelo eleitor com algum tempo de exposição, algo que não ocorreria numa eleição convocada para este ano.
Então, Bolsonaro acabaria se elegendo.
Aí, depois da tragédia, as pessoas diriam: o brasileiro é culpado! É ele quem escolhe essa gente! É ele que vota! Tem que aprender a votar melhor!
Tem? Será que tem?
Veja as opções que seriam oferecidas ao eleitor nessa hipotética eleição em 2017: Lula versus Bolsonaro. O que é pior para o Brasil? O populismo que corrói de dentro para fora ou a truculência que destrói de fora para dentro?
Agora, se você não quiser pensar em hipóteses, pense na realidade: na última eleição presidencial, o eleitor teve como opções, no segundo turno, Dilma e Aécio.
Dilma foi o que se viu. Esqueça a corrupção. Lembre-se apenas de que a maior crise econômica da história do Brasil tem a assinatura dela. E Aécio é o que se vê: um político que achaca empresários e que se manifesta com a linguagem de um vaporzeiro da Lomba do Pinheiro.
Como é que se pode culpar o eleitor?
Essa é uma das tantas tragédias da democracia. A democracia, como método administrativo, é precária e falha. A democracia só é imprescindível por ser a única forma de evitar a tirania. A não ser, é claro, que você eleja um candidato a favor da tirania. Aí, sim. Aí a culpa é toda sua.