Sou contra ketchup na batata frita. É das poucas instituições que desprezo na admirável civilização americana. Não consigo entender esse hábito, cultivado inclusive pelo presidente da República, Donald Trump. E se trata de algo ubíquo, porque a batata acompanha tudo por aqui. Eles botam batata frita no prato com bife e ao lado do hambúrguer, é claro, mas também no peixe e até, Cristo!, na massa.
Tenho uma teoria a respeito: o exagero da batata se deve à imigração irlandesa. Os irlandeses, como se sabe, padeceram com a Grande Fome da Batata, no século 19. Uma praga atacou as batatas de lá e um quarto da população irlandesa morreu de inanição. Ao fugir da miséria, eles se homiziaram nos Estados Unidos e, agora, enfim prósperos, pelo que anseiam? Obviamente, pelo que não tinham: a batata.
Muito natural, muito humano, mas por que o ketchup? Ketchup estraga a batata.
Francamente.
Aliás, sou contra sal no abacate, preciso deixar isso sublinhado. E sou contra morango na salada.
Sou contra lacinho no mocassim. Sou contra mocassim sem meia. Na verdade, sou contra mocassim. Mocassim é coisa de índio, e índio americano, não índio brasileiro. Índio brasileiro anda de chinelo de dedo, calção Adidas e cocar. E atira flecha na polícia do Congresso.
Vi os índios dando flechadas na polícia do Congresso, nesta semana. Ninguém saiu ferido, prova de que nossos índios são como o Pedro Rocha: não têm pontaria. São aculturados, talvez.
Conto sempre aquela história que li no livro do Peninha, sobre os ferocíssimos índios goitacazes: eles eram ótimos nadadores. Mergulhavam no mar do Rio de Janeiro com um pedaço de pau na mão. Procuravam o lugar que estivesse infestado de tubarões. Quando o tubarão atacava, querendo comer o índio, o índio metia aquela vara na boca do bicho e assim o imobilizava. O tubarão não conseguia mais mover a mandíbula. O índio, em seguida, enfiava o braço goela adentro do tubarão, até alcançar suas entranhas. Localizava o coração e o arrancava de um repelão.
Era desse jeito que os goitacazes caçavam tubarão.
Certamente não havia um só goitacaz entre os índios que desferiram flechadas inócuas na polícia de Brasília.
De qualquer forma, sou contra pessoas que atiram flechas em outras pessoas.
Quando guri, eu tinha um arco e flecha de plástico, com ponta de borracha para grudar na parede. Atirava na parede e nunca grudava. Uma tristeza. Sou como os índios inofensivos de Brasília, não como um goitacaz arrancador de corações de tubarão.
Uma vez, comi caldo de barbatana de tubarão, em um restaurante chinês. Foi horrível. É forte demais, fiquei três dias com o gosto daquela barbatana na boca.
Comida chinesa não é para mim. Em Pequim, eu e o Tulio Milman fomos a um restaurante e pedi peixe assado. A garçonete deslizou para a cozinha e voltou de lá com uma caixa de plástico do tamanho de um engradado de cerveja. Dentro, havia água. Na água, nadava um peixe.
– Esse? – ela me perguntou.
O peixe ficou me olhando, enquanto eu dizia que, sim, é esse mesmo. Aí ela saiu para matar o peixe. Aquilo me deixou meio chateado. Fiquei me lembrando da forma como ele me olhava. Não gosto de ver minha comida viva.
Comida chinesa é exótica em demasia para mim. Comida coreana, pior. Na Coreia do Sul, eles usam pimenta como os americanos usam batata. Qualquer comidinha de aparência inocente se transforma nas chamas do inferno quando você coloca na boca.
Sou contra comidas apimentadas demais. Na Coreia do Norte, eles colocam ainda mais pimenta do que na do Sul. Tem até um prato de ostras que eles cozinham com gasolina. Gasolina, por Deus. Sou contra.
Mas o pior da Coreia do Norte é aquele ditador deles. É agressivo, meio esquisito, não parece uma pessoa sensata. Inconfiável.
Só que o Trump pode ser descrito com as mesmas palavras. Ou seja: dois homens poderosos e pouco confiáveis se desafiando. Pode acabar em guerra. Todos somos contra a guerra.
O Trump, em vez de mandar submarinos nucleares para a Coreia, podia ficar quieto na Casa Branca, comendo batata frita com ketchup. Seria mais cauteloso.
Cautela: sou a favor.