O uso indiscriminado do celular nas cadeias parece ser um problema insolúvel. Faz muito tempo que presos abusam de sua utilização, desde quando o aparelho era só um telefone, sem internet. Sempre foi a maneira como eles se conectam com o mundo, ou seja, continuam cometendo crimes. Dez entre dez operações policiais grandes envolvem “presos do sistema carcerário”. Como um preso comete crime estando no sistema carcerário? Usando um celular. A primeira e mais importante função da prisão é cessar a continuidade do crime.
Tão antiga quanto o uso do celular é a promessa de bloquear o sinal nas cadeias. Algo que nunca foi eficiente. Na cadeia, o preso deveria, pela lei, ter a liberdade cerceada, pois o princípio da prisão estipula que a pessoa não tem condições de conviver em sociedade. Em prisões superlotadas, fica mais fácil ter um telefone móvel. As exceções deveriam ser locais como a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), em Charqueadas, mas lá também eles abusam do celular. Como os presos possuem um celular na cadeia? Se valem de várias maneiras. Se engana quem acha que falam só com familiares: cometem crimes, mesmo.
Já que bloqueadores de celular foram prometidos e nunca viraram realidade, aqui vai a sugestão de uma medida muito mais barata e que dispensa usar bloqueador: não permitir que o celular seja carregado. Os presos usam tomadas de energia elétrica para encher a bateria do telefone. Uma bateria, por menos que se use, não dura muito. As mais eficientes exigem que, a cada dois ou três dias, os aparelhos sejam ligados por cabo na energia para serem recarregados. Parece fácil, por isso é um enigma o fato de não se conseguir controlar essa farra. Deve existir algum motivo.
O professor de direito Cezar Bittencourt escreveu, em 2004, um livro cujo título é A Falência da Pena de Prisão. Quase 20 anos depois, o título se mantém atual. Enquanto isso, continuamos no círculo vicioso: pagamos impostos para ter segurança, policiais prendem, o sujeito se alia a uma facção criminosa no presídio e volta ao crime usando um celular, com autonomia para carregar a bateria e sem bloqueio de sinal. Esgotar o crime também passa por soluções que anulem o uso do telefone, tirando a possibilidade de carregá-lo.