A pandemia é também um terreno fértil para experimentos sem comprovação, levando ilusão para pacientes e familiares. Um ano atrás, quando o vírus chegou e se tinha pouca informação sobre os efeitos do coronavírus no organismo, médicos tentaram muitas alternativas para reduzir os efeitos da infecção.
Ao longo do ano, inúmeras pesquisas, entre elas a Coalizão Covid-19, que reuniu os principais hospitais brasileiros, não encontrou evidências de eficácia no uso de alguns medicamentos e a melhora do estado de saúde dos pacientes.
Nem falo da cura. A cura, sabemos, só pela vacina.
O que aconteceu em Camaquã, no entanto, elevada esse debate polêmico a um novo patamar. Lá, uma médica plantonista do único hospital da cidade decidiu experimentar nebulização com hidroxicloroquina como uma caminho para recuperar pacientes. Para justificar, a profissional usava como exemplo a melhora de uma pessoa, que não chegou a evoluir para estado grave, recebeu o experimento e se recuperou.
A postura da médica lançou uma onda de esperança — e de ilusão — para pacientes e familiares de dezenas de outros internados no hospital. Mesmo com a profissional afastada, a técnica bolada por ela continuou sendo implementada, por ordem judicial a pedido das famílias, em quatro pacientes. Três morreram.
O ambiente crítico e extenuante para profissionais ficou ainda mais pesado no hospital. Tanto que o diretor técnico da instituição, o médico Tiago Bonilha, fez um apelo nesta quinta-feira (25), em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha (ouça a entrevista abaixo).
O Conselho Regional de Medicina (Cremers) abriu sindicância para investigar o caso. Mas só isso não basta, porque o caso está em curso e exige uma resposta mais imediata. O Ministério Público foi acionado.
O estrago está feito. Vidas se foram, e pessoas foram levadas a acreditar em algo que é, no mínimo, duvidoso. O momento é crítico. Profissionais da saúde precisam de ajuda, não de distrações que tumultuam ainda mais o ambiente hospitalar.