Um projeto inédito no Estado para ajudar na recuperação de pacientes com infecção nos pulmões causada pelo coronavírus começou a ser testado nesta semana em pessoas internadas no Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre.
O tratamento prevê o uso de gás de óxido nítrico inalado para combater infecções no trato respiratório. O gás tem propriedades antimicrobianas e antivirais inclusive contra o coronavírus em estudos laboratoriais. Trata-se de um técnica ainda em teste, mas com efeitos promissores na recuperação de pacientes.
O óxido nítrico é produzido pelo próprio organismo e vem sendo pesquisado para uso medicinal há mais de 40 anos. Em 1998, pesquisas com esse gás renderam o Prêmio Nobel de Medicina a três cientistas americanos.
O óxido nítrico já é usado em doses menores para auxiliar na melhora da oxigenação de pacientes com falência respiratória. Médicos da PUCRS e pesquisadores da Universidade de Toronto firmaram uma parceria para implementar testes clínicos com esse tratamento aqui no Rio Grande do Sul. O acordo foi possível porque o chefe do Serviço de Transplantes do hospital da universidade canadense é o médico gaúcho Marcelo Cypel, que já vem estudando esse gás em outras infecções pulmonares.
— O oxido nítrico, quando usado em doses quatro a cinco vezes maiores que o uso clínico atual, tem um potente efeito anti-viral.
Recentemente, o laboratório de pesquisa que Cypel lidera em Toronto desenvolveu um protocolo mostrando a segurança do uso dessas altas doses por um período prolongado. Esse protocolo está sendo agora administrado no ensaio clínico randomizado em colaboração com os pesquisadores da PUCRS. Pacientes internados no Hospital São Lucas foram submetidos aos testes.
— Acreditamos que em dois ou três meses vamos ter uma boa ideia da potencial eficácia desse tratamento em pacientes — afirma Cypel.
O tratamento para covid-19 também poderia ser implementado para tratar outros vírus respiratórios, como a Influenza.
Em Porto Alegre, os testes estão sendo conduzidos sob a supervisão do pneumologista pediátrico e pesquisador em doenças respiratórias Marcus Jones. O estudo inclui pacientes com idade a partir de 12 anos nas primeiras 48 horas apos internação hospitalar devido a comprometimento pulmonar causado pela covid-19.
— Estamos muito entusiasmados com essa colaboração e com a possibilidade de ajudar pacientes que estão numa situação clínica instável devido ao coronavírus. O objetivo é que esta intervenção com óxido nítrico, feita quando os sintomas pulmonares já são importantes, modifique a evolução da doença, evitando a fase de hiperinflamação, com agravamento clínico e necessidade de cuidados intensivos.