Há pouco mais de um ano e meio, os vereadores de Caxias do Sul abriram um processo de impeachment contra o prefeito da cidade, Daniel Guerra. Os motivos? Roubo, corrupção, desvios? Não.
As motivações foram questões administrativas, de dia a dia, que podiam ser facilmente resolvidas sem a necessidade de derrubar o prefeito. No fim, foi uma cassação política.
Olhando daqui, na época, me pareceu um exagero, mas o ambiente político na cidade era muito pesado e, diante de nenhum ou quase nenhum apoio na Câmara, o prefeito acabou derrubado.
Logo depois, em circunstâncias parecidas, foi alvo de impeachment o prefeito de Farroupilha, Claiton Gonçalves. Da mesma forma, olhando daqui, me pareceu outro exagero.
Agora, a pouco mais de três meses da eleição e a cinco de concluir o mandato, os vereadores de Porto Alegre se voltam para apreciar a admissão para tramitar na Câmara de um pedido de impeachment contra Nelson Marchezan. O motivo alegado no pedido seria o cometimento do crime de responsabilidade pelo prefeito no uso de verba da saúde em publicidade.
Em sua defesa, o prefeito respondeu que o uso do recurso foi aprovado pelo Legislativo e que o gasto em publicidade inclui campanhas de esclarecimento na saúde. Convenhamos, é um impasse que pode resolvido de outra forma, sem o uso de um instrumento que foi banalizado, o impeachment.
Mantendo uma linha de coerência, vou criticar essa postura. Os vereadores têm todo o direito à revolta e indignação com o prefeito Marchezan pelos mais diversos motivos. Mas impeachment depende também do clima na cidade.
E, do lado de fora, a população de Porto Alegre pensa outra coisa: retomar as atividades depois que o pior da pandemia passar. Derrubar o prefeito agora, por motivo político, é querer desorganizar ainda mais a cidade.