Vereador por 10 mandatos, João Antônio Dib vê Porto Alegre com desencanto. Ele se despediu da Câmara da Capital em 2012, após quase 60 anos de vida pública (ingressou na prefeitura como servidor em 1952), mas não passa uma semana sem ir ao parlamento. Lá se reúne com próceres do PP e troca ideias sobre a política da cidade. Aos 88 anos, a degradação da Capital é o que mais o preocupa:
– Nunca via a cidade tão abandonada. O prefeito brigou com todo mundo. É uma coisa sem igual.
Porto Alegre tem sido alvo de críticas por causa da degradação. O que o senhor acha?
Nunca vi a cidade assim. A coisa é inexplicável. Sabe, o (Guilherme Socias) Vilella, quando assumiu a prefeitura, em 1975, na primeira semana criou um programa chamado Porto Alegre Ur-Gente. A ideia era tapar os buracos e resolver os pequenos problemas. Ele não tratou de dizer que estava errado aqui ou ali. Não ficou procurando culpados. Empenhou-se para solucionar o que estava errado, em vez de perder tempo criando outros problemas. Eu trabalhei na prefeitura com Ildo Meneghetti, Leonel Brizola, Loureiro da Silva, Thompson Flores, Célio Marques Fernandes e outros. Sempre houve problemas financeiros. Mas nunca vi a situação como ela está agora. Ando bastante de carro. Não tem uma rua em que o carro não caia num buraco. E os que são recuperados, em questão de dias, reaparecem. É uma coisa de louco.
O problema é o prefeito (Nelson Marchezan Jr.)?
Condições políticas para assumir ele teve. A Câmara deu atenção ao prefeito no início do mandato e aprovou a restruturação administrativa. Fez tudo o que ele queria. E, hoje, o secretariado é uma perfeita confusão. Duvido que alguém, dentro da prefeitura, numa situação de emergência, saiba a quem recorrer. Quando fui prefeito, havia 10 secretarias e três autarquias. Uma reunião completa do primeiro escalão tinha 16 pessoas, com o prefeito. Ao longo do tempo, foram criando secretarias, e, para cada uma, abriram vaga de secretário adjunto. Agora, essas pastas foram agrupadas de uma forma estranha, meio atrapalhada.
O prefeito já disse que, diante da situação financeira, a cidade vai continuar esburacada.
O maior prefeito de Porto Alegre, José Loureiro da Silva, assumiu, em 1960, quando havia meses de salário atrasado. Meses. Não ouvi sequer uma reclamação. Ele foi à luta. Atualmente, está faltando sensibilidade, mesmo.
JOÃO ANTÔNIO DIB
Ex-vereador de Porto Alegre
Vim de carro, agora, pela Rua 24 de Outubro, e fiquei impressionado com a quantidade de veículos parados. Pensei que era um acidente. Não: o cara tem de reduzir a velocidade para desviar da buraqueira. Isso tudo atrapalha. Como é que o prefeito não se preocupa com os buracos? É a circulação da cidade. Quebra peças dos carros, traz prejuízo. Atrapalha todo mundo. Diz respeito ao dia a dia de todos. Aqui em Porto Alegre somos especialistas em colocar cavaletes para alertar o buraco, mas sem solucionar o problema.
O senhor vê um problema de gestão?
Só isso pode explicar a situação da cidade. Outro exemplo: no início do ano passado, um relatório do Dmae alertou que, se não houvesse aumento da capacidade de tratamento nas estações, poderia falta água em Porto Alegre. O prefeito atrasou a decisão e só autorizou os investimentos em fins de julho. E agora falta água em vários lugares da cidade.
Mas o senhor reconhece que a prefeitura vive uma crise financeira?
O problema da falta de dinheiro é muito sério. Os recursos estaduais e da União não chegam. Mas o maior prefeito desta cidade, José Loureiro da Silva, assumiu, em 1960, quando havia meses de salário atrasado. Meses. Os fornecedores não forneciam para a prefeitura se não fosse pago em dinheiro vivo porque a prefeitura havia perdido o crédito. Não ouvi sequer uma reclamação do Loureiro da Silva contra o antecessor. Ele tratou de consertar a prefeitura sem reclamar de nada. Foi à luta, foi atrás de empréstimos, recursos. No fim do primeiro ano, os salários estavam em dia. No seguinte, os fornecedores todos foram pagos. Quatro anos depois, ele não devia nada para ninguém. Atualmente, está faltando sensibilidade mesmo. Li uma manifestação do prefeito para empresários em que ele diz: "Querem que eu tape buracos, pois bem, então não vou dar comida para a creche". Que história é essa? O dinheiro para a merenda não pode ser tão alto que modifique o orçamento da prefeitura.
Qual foi o principal erro político do prefeito?
Foi ter afrontado a Câmara e brigado com os vereadores. Ele deveria trocar ideias, conviver melhor com os vereadores. Sem isso, fica muito difícil para aprovar projetos. Quando ele enviou o projeto de mudança da planta do IPTU, que era aumento de imposto, gravou um vídeo afrontando a Câmara, dizendo que os vereadores eram contra porque moravam em bairros nobres. Tu achas que o vereador vai votar contra porque o IPTU dele vai aumentar R$ 500? Ele deveria ter mostrado à cidade que o projeto era uma coisa boa, se é que era. E ele nem tentou.