Minha melhor amiga decidiu comemorar o aniversário de 59 anos dançando. Nos conhecemos há 40 aniversários e sempre que as circunstâncias e o ânimo permitem, em datas redondas e às vezes também nas quadradas, ela convida os amigos para celebrar a ocasião em algum bar com música alta e lugar para dançar. Minha amiga é daquelas que valem qualquer esforço. Encarar a obrigação moral de dançar não é nada, certo? Mais ou menos.
Não que eu seja um poste absoluto. Sou apenas um poste que precisa de um bom motivo para sair do lugar. Em casa, sozinha, quando dá na telha, sou uma Júlia Mattos de pantufas. O problema de sair “para dançar” é dar como certo que a vibe dançante vai comparecer em algum momento, como a fome quando a gente se programa para ir a um restaurante. Mas não é bem assim. Se a humanidade é dividida entre os que dançam para ficar alegres e os que só dançam quando já estão alegres, faço parte da categoria “vai indo, que eu já vou”. Na festa da minha amiga havia representantes dos dois times, como sempre, e quase todo mundo dançou, inclusive eu. Quem tem amigos nunca dança sozinho.
Enquanto os 30- têm cada vez menos disposição para sair de casa, os 50+ parecem decididos a ficar na pista até a última música.
Para os que correm para a pista de dança à primeira piscadela do DJ, não tem tempo nem música ruim, mas para o povo que precisa de um estímulo adicional, a trilha sonora é o que vai fazer a diferença. Uma música conhecida, de preferência associada a uma memória estimulante, dispara toda a endorfina necessária para transformar Forrest Gump em Tony Manero. Daí o sucesso ininterrupto da Balonê (a próxima edição será no dia 4 de maio, no Ocidente), que explora o inesgotável filão da nostalgia musical dos porto-alegrenses desde 2001.
Juntam-se agora à Balonê outras duas festas que, além de mandarem bem na seleção musical, começam em um horário amigável para o pessoal que está há mais tempo na pista. No dia 23 de março, a jornalista Katia Suman inaugurou, no Ocidente (Osvaldo Aranha, 960), o projeto Baila Comigo, idealizado para o público 50+. A festa vai rolar uma vez por mês (a próxima será no dia 27 de abril), sempre aos sábados, das 19h às 23h, e a primeira edição foi um sucesso de público e crítica. No próximo sábado, dia 13, a partir das 18h, estreia no Grezz (Almirante Barroso, 328) a festa Gudinaite, criada pela jornalista Patrícia Parenza e pelo publicitário e DJ Diego de Godoy. Os ingressos também esgotaram-se em poucos dias (a próxima edição será em 11 de maio).
Vai entender. Enquanto os 30- têm cada vez menos disposição para sair de casa, os 50+ parecem decididos a ficar na pista até a última música.