Imagine uma escada com degraus numerados de zero a 10. No zero, está a pior situação em que você consegue se colocar, a desgraça absoluta, o alçapão no fundo do poço, um navio encalhado no Suez. No 10, está a felicidade mais luminosa, o Nirvana na Terra, a área VIP da plenitude. Agora, examine friamente o ano que passou e responda: entre o fundo do poço e o Nirvana, em que degrau você ficou mais tempo estacionado em 2020?
Esse modelo, conhecido como Escada de Cantril, foi aplicado por pesquisadores das Nações Unidas para medir o quanto a pandemia afetou a percepção de bem-estar em diferentes países do mundo. Os resultados foram apresentados em uma reportagem publicada em 20 de março, Dia Mundial da Felicidade, na revista The Economist. Os mais felizes, os finlandeses, pontuaram, em média, um pouco abaixo de 8 (ou seja: se o Nirvana existe, ninguém mora lá). Os menos afortunados, os zimbabuanos, um pouco acima de 3. O Brasil, no pelotão do meio, não passaria por média no meu colégio: 6,1.
A grande surpresa da pesquisa foi que os índices de satisfação em 2020, comparados ao período de 2017 a 2019, não apenas se mantiveram estáveis como melhoraram um tantinho. Em média, claro. Alguns países, o Brasil entre eles, mergulharam no baixo-astral. Ainda assim, o mal-estar não parece ter se espalhado tão globalmente quanto o vírus. Pessoas mais velhas, por exemplo, tendem a enfrentar a crise com otimismo e resiliência, mesmo sendo o grupo mais afetado pela covid – enquanto a garotada tem mais dificuldade para lidar com a perda da vida social e a insegurança com relação ao futuro.
Outra conclusão da pesquisa é que os fatores que levam as pessoas a se sentirem mais satisfeitas em relação às próprias vidas são os mesmos que ajudam os países a enfrentar melhor a pandemia – e esses fatores podem ser resumidos em uma única palavra: confiança. Um país em que as pessoas confiam umas nas outras, nas instituições e no governo é um país feliz.