A questão era séria, como costumam ser todas as questões discutidas em volta de uma mesa de bar que permanecem conosco não apenas no dia seguinte, mas décadas mais tarde: o mundo estava ficando melhor ou pior?
Um tanto por temperamento, outro tanto pela sorte de, aos 17 anos, não ter qualquer motivo concreto para encarar o futuro com desconfiança, aderi imediatamente ao time dos otimistas da mesa. Claro que o mundo estava melhorando. Talvez não fosse tão evidente aqui e agora, no miudinho do dia a dia (Porto Alegre, nos anos 1980, não era exatamente Shangrilá), mas olhando para trás, com distanciamento e objetividade, os sinais de evolução estavam por todos os lados. Ou assim me parecia.
Pra começar, a maioria de nós vivia melhor do que nossos pais e avós tinham vivido – e muito melhor do que antepassados mais distantes. Dificilmente veríamos algo parecido com as duas grandes guerras do século 20, por exemplo, porque aquilo tudo havia sido tão insensato que era pouco provável que os mesmos erros voltassem a ser cometidos. Escravidão, Inquisição, opressão das mulheres, crianças cobertas de fuligem trabalhando 12 horas por dia, tudo isso tinha ficado para trás, junto com a baixa expectativa de vida e a alta mortalidade infantil - pelo menos em boa parte do planeta. Claro que ainda havia muitos problemas para resolver (éramos otimistas, não cegos), mas tudo indicava que era mais seguro estar vivo agora do que em qualquer outro período da História.
De tempos em tempos, volto àquela discussão no bar da faculdade e me pergunto se ainda defenderia uma visão otimista e linear da História diante dos meus colegas apocalípticos. Sim, entre dois cenários possíveis, ainda me inclino a acreditar no menos pior. É da minha natureza. Também continuo achando que o passado é um lugar para onde eu não gostaria de voltar e que nascer mulher antes de 1900 era uma grande rasteira do destino, mas já não tenho tanta certeza de que os erros não se repetem ou de que é impossível, em determinados aspectos, retroceder miseravelmente.
Quando conquistas do passado que pareciam inquestionáveis, como as vacinas, são ameaçadas por ideologia, ingenuidade ou desinformação arrogante e irresponsável, a otimista categórica que eu fui (sou?) suspira e sai da sala, abatida.