O discurso da primeira-dama americana durante a convenção do Partido Democrata na Filadélfia, na noite de segunda-feira, chamou atenção tanto pelo que disse quanto pelo que deixou de dizer: o nome da assombração que ela se recusou a mencionar. Michelle Obama chamou Hillary Clinton de "amiga", elogiou a forma como ela educou a filha ("à perfeição") e destacou sua fibra, experiência e dedicação ao interesse público ("ela nunca desistiu de nada na vida"). Em contraste, o "você-sabe-quem" Donald Trump, sem ter seu nome mencionado, foi descrito como alguém que não leva a sério o trabalho, reduz temas complexos a 140 caracteres e passou a maior parte da vida perseguindo "fama e fortuna" para si mesmo.
Como contraponto a um candidato que tem recebido apoio de supremacistas brancos, Michelle lembrou que a Casa Branca, onde duas meninas negras cresceram e brincaram nos últimos oito anos, foi construída por escravos. Na próxima eleição, destacou a primeira-dama, os americanos não estarão optando entre republicanos e democratas ou esquerda e direita, mas escolhendo a pessoa que será a melhor influência para jovens e crianças de todas as etnias e classes sociais: "Não acreditem em quem diz que a América deixou de ser grande".
Se carisma e oratória decidissem eleição, Trump teria amanhecido de topete baixo. Depois do fiasco do discurso de Melania Trump na convenção republicana da semana passada (não apenas pelo plágio constrangedor, flagrado logo em seguida, mas pelas óbvias limitações da ex-modelo como oradora), Michelle Obama lacrou a internet. Manchetes como "Michelle é a melhor arma secreta contra Trump" ou "Quando ela vai concorrer para presidente?" deixavam claro que a primeira-dama – e a redatora dos seus discursos desde 2008, a advogada judia, formada em Harvard, Sarah Hurwitz (a mesma que Melania plagiou e que antes da Era Obama escrevia os discursos de Hillary Clinton) – acertaram no tom: enfático, como o momento político exige, mas sem perder a ternura. Apresentando-se como uma mãe preocupada com o futuro das filhas, Michelle captou o coração do americano médio – e com ele na mão deu o recado que queria dar: apoiar Hillary é o único jeito de barrar a ascensão de você-sabe-quem.