Em 28 de junho de 1969, um bar em Nova York tornou-se o símbolo da luta pelos direitos civis dos homossexuais. A invasão pela polícia do pub Stonewall Inn criou o pretexto e o clima para que a comunidade LGBT (na época ainda sem esse nome) derrubasse a pontapés a porta do armário exigindo o fim da perseguição e a revisão das leis que chancelavam os homossexuais como cidadãos de segunda categoria. Não por acaso, o 28 de junho, Dia do Orgulho Gay, é ainda hoje celebrado com muita festa e purpurina. Stonewall é o marco da reação a séculos de repressão e medo – e orgulho e alegria são o melhor antídoto contra a culpa e a vergonha.
O mundo mudou muito entre a invasão de Stonewall pelo Estado e a invasão da Pulse pela violência autodeclaradamente de inspiração fanático-religiosa. Em junho do ano passado, em uma decisão histórica, a Suprema Corte dos EUA aprovou o casamento gay em todo o país – depois de o próprio presidente Barack Obama ter se manifestado a favor da causa.
A visibilidade cada vez maior de gays na política, no mundo corporativo e no showbusiness e o fato de que a maioria dos americanos hoje apoia o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a igualdade de direitos não significa que a outra metade do país tenha aceitado a derrota histórica com fair play e elegância. Se Stonewall foi o símbolo da luta pela mudança do sistema jurídico, a boate Pulse tornou-se o marco da batalha que ainda está sendo travada – nos EUA e no Brasil – contra a homofobia. A boate Pulse será para sempre um doloroso lembrete de que a tolerância à intolerância pode ser tão mortal quanto um rifle AR-15 na mão de um idiota.