O Grêmio ficou para trás, deixou no caminho uma de suas grandes virtudes. A força de um clube está no respeito as suas bandeiras, as suas histórias e a sua torcida. Pois o Grêmio entregou as suas vitórias à idolatria, diminuindo o sentido de coletividade, base fundamental a origem de um clube associativo. A narrativa venceu os fatos e o Grêmio sucumbiu como estrutura.
Os 15 anos (2001 a 2016) de dificuldade foram duros ao Grêmio, e a retomada das conquistas enganou todo mundo. Os anos de 2016 e 2017, resultados de um trabalho que começou muito antes, foi muito mal gerido pelo Grêmio e pela sua torcida. O clube não soube ler o que havia acontecido e colocou em uma pessoa a marca da vitória.
Prestem atenção. Todos, de lá para cá, sucumbiram. Apenas Renato resistiu. A torcida do Grêmio entregou ao técnico todos os louros, e Renato foi habilidoso para fazer render essa narrativa.
Os anos se passaram e o Grêmio foi entregue a um tempo que já passou. O sentido de boleiragem folclórica dominou o ambiente e as derrotas começaram a aparecer, mas sempre encontrávamos um culpado paralelo nos fracassos. Um grupo com poucas peças, alguns dirigentes, o CEO, a imprensa e outros coadjuvantes foram colocados em praça pública para dar corpo a narrativa de que apenas o treinador era o vitorioso. Renato mandava em tudo, mas, curiosamente, nunca perdia. E todos sempre acreditavam nisso, sem sequer ter força para questionar.
O tempo passou e as coisas só pioraram. Dirigentes foram eleitos com a tutela de Renato e o Grêmio só dava mais poder a quem nunca apresentou conteúdo para dominar uma nação. A clara diminuição de tamanho dos últimos anos começa a criar raízes perigosas em clube que movimenta milhões e será preciso ser muito duro nas mudanças. O Grêmio desmanchou o que criou entre 2014 e 2015 e terá que voltar no tempo.
Precisamos admitir que nós perdemos. O Grêmio todo perdeu. Foi rendido por uma simplória narrativa, que movimentou comportamentos e rachou algo que sempre foi unitário. Está na hora de olhar para os fatos e fazer um diagnóstico mais duro sobre todos os comportamentos.
Enriquecemos centenas de jogadores que sequer jogaram. Pagamos rescisões milionárias como se fizesse parte do contexto do futebol. Elegemos deputados, tanto federal como estadual, com a força da nossa torcida, como se isso fosse algo para o clube. Viramos piada em podcasts por todo o país com histórias de jogadores que nunca se comprometeram com a nossa causa.
Chegou a hora de acordar e olhar os fatos. Ser crítico e colocar a culpa em quem tem, para assim voltar a viver em paz. É preciso procurar um trabalho consistente e correto e que leve o Grêmio a resultados em todas as áreas. Precisaremos ter paciência. Esta luta vai demorar. Serão anos e anos até que se consiga romper com uma narrativa que virou tatuagem em grande parte dos gremistas.
O Grêmio precisa encerrar a ideia de que uma “estátua” pode comandar o clube. A idolatria nos enganou e o Grêmio precisa vencer esse duro jogo que começa no coração de cada tricolor.