Temos que elogiar o Exército. Ainda estamos aqui, na democracia, devido à sua postura imparcial e autônoma.
O golpe de Estado só não aconteceu devido à negativa dos comandantes do Exército e da Aeronáutica na época.
Só houve a manutenção do Estado Democrático de Direito porque o nosso Exército não embarcou na aventura do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Só houve a preservação da democracia porque a alta cúpula militar assegurou o resultado do pleito popular.
Se o Exército não tivesse mostrado resistência, a história teria sido outra.
Foi a peça que faltou para o caos e instauração de uma ditadura.
Não houve tanques nas ruas, não houve esquadrilha no céu, não houve navios nos portos. Os canhões não miraram os direitos humanos.
A defesa da paz dependeu, paradoxalmente, dos chefes de nossas tropas.
De acordo com investigação da Polícia Federal, o ex-presidente “planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva" do plano de golpe de Estado em várias frentes.
No relatório entregue ao ministro do STF, Alexandre de Moraes, Bolsonaro foi citado nominalmente 535 vezes pelos envolvidos.
Não há como banalizar a manifestação de 8 de janeiro e a invasão dos Três Poderes, ou mesmo a arquitetura secreta e insidiosa de impedir a diplomação de Lula. Não se tratou de meras especulações ou quimeras dos bastidores.
Ocorreu a elaboração concreta de uma minuta para decretar "Estado de Sítio" no TSE logo após o segundo turno em 2022. O documento não contou com as assinaturas dos chefes do Exército e da Aeronáutica, o que malogrou o plano, já que, sem a intervenção direta das Forças Armadas, o levante não teria estrutura para ordens de prisão e sufocamento de qualquer mobilização popular.
Como disse o próprio Bolsonaro: “Não existe golpe com general da reserva e mais meia dúzia de oficiais”.
O decreto presidencial não consistiu em uma peça de ficção, serviria como base legal e fundamento jurídico para a tomada de poder. Chegou a ser rasgado para não deixar provas da sublevação.
De todas as informações assustadoras a respeito do complô, que estão vindo à tona, a única boa notícia é a remissão do Exército, que parece ter aprendido com os seus erros do passado e não reeditou a ditadura militar.
Dessa vez, o Exército Brasileiro cumpriu com as suas responsabilidades:
- Garantir a ordem, a lei e os poderes constitucionais no interior do país.
- Contribuir para a soberania nacional.
Talvez tenha sido o primeiro movimento real de Anistia partindo de dentro dos quartéis em direção à sociedade, e não da sociedade para os quartéis.
Não sei se o Exército se arrepende do regime que durou 21 anos (1964-1985), e que estabeleceu censura à imprensa, restrição aos direitos políticos e perseguição policial e tortura aos opositores.
Mas sei que ele mudou de perspectiva. As feridas abertas com a farda verde-oliva começam a cicatrizar.
Nessa guerra subterrânea, vencida pela democracia, cabe destacar os generais e brigadeiros que se posicionaram corajosamente com o “não” às tentativas golpistas de um mandato, arcando com duras represálias.
Embora tenham apenas respeitado as suas obrigações, merecem medalhas de Honra ao Mérito. Já conhecemos os dois mais importantes bastiões contra a ruptura institucional: Carlos de Almeida Baptista Jr., da Aeronáutica, e Marco Antônio Freire Gomes, do Exército. Festejemos suas façanhas.