Os aniversários mais ruidosos são os que têm menos gente ao redor da mesa.
Porque cada um se vira para ser uma multidão na hora do parabéns. Não há como cantar baixinho se são só três ou quatro pessoas entoando a tradicional música de felicitação. Quem é tímido esquece a retração e puxa o coro.
Talvez ocorra um ato mais bonito do que o de uma festa cheia: os participantes se multiplicam para que o aniversariante se sinta amado, para que jamais lamente os poucos amigos da ocasião. Combatem o silêncio e o medo com uma voz tonitruante.
Considero comovente o esforço do grito, do entusiasmo para preencher os espaços vazios, dentro e fora do coração.
O aniversário é visto como um julgamento do alcance de nossos laços. Não deveria ser assim, não deveria sinalizar o quanto somos sociáveis, benquistos, admirados. Sempre teremos um revezamento de afetos ao longo de nossas celebrações. Cada fase terá seus anjos da guarda.
Num ano, você poderá contar com a casa lotada. No outro, com a casa discreta de visitas. Não é uma balança de que sua vida vem funcionando ou não.
O importante é estar com quem você acredita. Com quem não abre mão de conversar diariamente. Com quem estará ao seu lado quando não tiver nada a exaltar.
Eu já passei por aniversários singelos de familiares. Lembro o mais difícil, o mais sofrido da minha infância: quando houve o divórcio dos meus pais. Minha mãe completava mais uma volta em torno do sol. Não existia clima para algazarra, ela se mostrava desmotivada pelo fim de um ciclo.
Meus três irmãos e eu não desfrutávamos de condições para comprar uma torta ou dar qualquer presente. Apenas dispúnhamos de algumas moedas em nossos cofrinhos. Mas queríamos oferecer para a mãe o nosso máximo.
Transformamos a casa numa festa junina, com bilhetes, desenhos e declarações de amor num varal estendido pela sala.
Compramos uma cuca na padaria. Uma cuca tradicional, com aquela farofa crocante de cobertura, à base de manteiga, ovos, açúcar e farinha.
Colocamos uma vela de oratório da igreja no meio dela. Parecia uma bandeira, que ficava ainda mais inclinada pela dança da chama.
Apagamos a luz e permanecemos quietos por um longo tempo, de mãos dadas, esperando a mãe chegar do serviço.
Ao escutar o barulho da chave na fechadura, gritamos diante do seu olhar atônito:
— Te amamos, mãe!
Quando ela percebeu a cuca brilhando no centro da mesa arrumada, a cuca convertida magicamente em torta, a riqueza da simplicidade, ela chorou de alegria. Soluçou de gratidão. Até pensamos que havíamos errado na surpresa. Demoramos a entender que ela gargalhava no meio de suas lágrimas. Pois reconheceu que oferecemos tudo o que tínhamos.
Ela transbordou de esperança, de futuro. Não se encontrava sozinha. Aniversário é passagem, não destino.