Nenhum porto-alegrense dormiu por pânico e aflição.
Logo depois da tempestade que começou na terça-feira (16) e se estendeu na madrugada de quarta-feira (17), o prefeito Sebastião Melo reuniu um gabinete de emergência para remediar os estragos na capital. Só que ele não conseguiu contato com a CEEE Equatorial. Nenhum representante compareceu na primeira mobilização, sendo que seis estações de água estavam sem energia, com estimativa de suspensão de água, e 1,3 milhão de moradores ficaram sem luz no estado.
Se o prefeito não foi prontamente atendido, o que resta para nós, reles mortais?
A CEEE Equatorial demonstrou assim que trata todos de modo igual, sem preferência, sem favoritismo, democraticamente: ou seja, trata todos com descaso.
Até entendo que o conserto das redes não tem como ser imediato, devido a situações mais complexas como derrubada de árvores e fontes absolutamente destruídas, após passagem de um vento de 89 km/h. Entretanto, o que não pode acontecer é não prestar esclarecimentos, apoio e conforto aos consumidores, com uma força-tarefa de atendimento emergencial.
Nem é o caso de sanar os acidentes sumariamente, e sim de reconhecer minimamente o sofrimento dos usuários.
É quase impossível falar com a CEEE Equatorial. O máximo de comunicação estabelecida com os clientes é o envio de um código por SMS. Não há nenhuma voz humana para tranquilizar. Não há nenhum canal pertinente e viável para buscar ajuda. O site da concessionária é precário, pré-histórico, ocasionando dificuldades inclusive para gerar uma segunda via da conta.
Se o atendimento presencial não existe, se o atendimento telefônico é nulo, esperava-se uma automatização eficiente do serviço, mas tampouco ela ocorre desde que a empresa assumiu o controle da autarquia, há dois anos.
Permanecer no escuro sem informações é assustador. Ainda mais quando todos dependem de uma solução para voltar ao trabalho e retomar a normalidade familiar.
Uma mensagem de previsão já nos serviria.
A CEEE Equatorial é uma empresa privada, mas gere um serviço público, portanto não é imune às críticas. Cumprimos nossos deveres com rigor e exigimos que os nossos direitos sejam honrados, com qualidade no trato e prevenção de crises.
Em borrasca de julho do ano passado, moradores penaram por dez dias sem energia. Um absurdo de morosidade. Por muito menos tempo do que nosso antecedente, em novembro de 2023, o então presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, renunciou ao cargo depois do apagão que deixou 2,1 milhões de pessoas sem energia em São Paulo.
Será que não existe interfone na torre de marfim da Equatorial?
Na hipótese de falhar no pagamento da fatura num mês, tenha a certeza de que conhecerei a mais célere prontidão: a minha luz será cortada. Ausência de pagamento é respondida no ato. Não se sofre de demora.
Atingimos os extremos do paradoxo: que luz pode ser cortada se não há luz?