O fechamento da lista de ministros do Governo Lula, nesta quinta-feira (29), tem que ser comemorado pelo esporte brasileiro. Primeiro, pela recriação da pasta, já que no governo de Jair Bolsonaro o Esporte perdeu o status de ministério, que detinha desde 1995, e passou a ser uma secretaria nacional, incorporada ao Ministério da Cidadania.
Uma segunda e fundamental razão é a indicação de Ana Moser para ocupar o cargo. Ex-medalhista olímpica e uma das maiores jogadoras de vôlei do mundo em sua geração, ela é presidente de um importante projeto, o Instituto Esporte e Educação, criado em 2001 e que já atendeu mais de 6 milhões de crianças, adolescentes e jovens e capacitou mais de 55 mil professores e educadores em todo o Brasil.
Entre as atividades do Instituto está a Caravana do Esporte, que atravessa o país e promove "o atendimento a crianças e adolescentes na faixa etária de sete a 14 anos, alunos da rede pública de ensino, com estações de esporte educacional em diversas modalidades, e promove uma formação continuada de 40 horas aos professores da rede pública de ensino, promovendo dinâmicas e encontros para a discussão da metodologia aplicada". Durante a pandemia, Ana Moser foi uma das responsáveis pelo lançamento do movimento Esporte pela Democracia, que prega o respeito à diversidade e a luta contra o racismo e o autoritarismo.
Outro motivo é que nos governos petistas foram criados o Bolsa Atleta, programa de remuneração mensal para atletas de alto rendimento; a Lei de Incentivo ao Esporte, que propicia recursos para projetos esportivos através da renúncia fiscal; o Projeto Atletas de Alto Rendimento, uma parceria entre o Ministério da Defesa e o do Esporte, com os esportistas tendo direito a salários, assistências médica e possibilidade de treinar em instalações militares.
Além disso, também foi criado o Projeto Forças no Esporte, no qual crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade eram selecionadas por unidades militares para serem iniciadas no esporte no período inverso ao das aulas nas escolas.
Todos estes programas perderam força nos últimos anos e, por exemplo, o Bolsa Atleta, não tem um reajuste desde 2015 e teve de cortar beneficiados. Antes das eleições, em algumas reuniões para tratar do esporte, alguns pontos foram discutidos para o Programa de Governo.
- Definir uma política de Estado para o esporte e o papel da União, estados e municípios;
- Tornar o esporte um instrumento de inclusão social e educação complementar;
- Transformar o esporte em uma fonte geradora de desenvolvimento, emprego e renda;
- Combater a violência e promover a cidadania através do esporte;
- Pensar o esporte como instrumento para cuidar da saúde de parte da sociedade;
- Ter o esporte como instrumento de múltiplas funções;
- Incentivar a criação de quadras, campos e piscinas públicas;
- Realizar conferências nacionais para definir políticas públicas.
Em um desses encontros Lula também falou sobre a importância do esporte em seu governo.
— Não sou especialista, mas tenho vontade de fazer tudo. O esporte não é gasto, é investimento. O Estado deve intervir porque as empresas não investem em atletas se eles não apresentarem resultados. Tem que mudar a visão da prática esportiva entre federação, estados e municípios.
Na conversa, que foi realizada em São Paulo, o então candidato chegou a citar o crescimento do vôlei como exemplo para outras modalidades, dando uma pequena pista de onde sairia sua escolha para o futuro ministério. Outro ponto abordado por Lula foi o futebol e ele deu indicativo de uma de suas bandeiras.
— Eu não gosto da ideia de torcida única. As pessoas têm medo de colocar a camisa de seus times — afirmou.
Entre os projetos que devem ser trabalhados está a criação do Sistema Único do Esporte, definindo o papel da União, Estados, Municípios e das entidades esportivas na oferta de políticas em um modelo próximo ao que ocorre com o Sistema Único de Saúde (SUS). Isto poderá assegurar participação, controle social e a otimização dos recursos públicos na área.
Outro objetivo é a melhoria da gestão e o futuro governo projeta implementar a Universidade do Esporte, visando à formação de profissionais voltados para a cadeia produtiva.
Mas com certeza o foco não ficará no esporte de alto rendimento. Com a experiência adquirida em mais de duas décadas com o Instituto Esporte e Educação, a ex-atleta buscará política bem mais ampla. Lembro de duas entrevistas que fiz com a agora ministra e sempre a preocupação com o social, com a educação, com integração esporte e sociedade para transformar sempre esteve nas palavras de Ana Moser.
A partir de agora a bola está com a nova ministra e a equipe que irá trabalhar com ela. E por tudo que a ex-atleta de 54 anos demonstrou em quadra e fora dela, não há dúvida que a escolha de seu nome é tão certeira quanto suas cortadas com a camisa 2 da seleção de vôlei.