O comportamento do mercado, aliado à escassez de recursos, está transformando a temporada de verão de ovinos no Rio Grande do Sul. O calendário ficou menor, inclusive com o cancelamento de eventos, e as feiras, mais enxutas.
Com custo de R$ 50 mil e sem apoio de tradicionais patrocinadores, que respondiam por 70% dos recursos, os organizadores da Mercotexel, em Santana do Livramento, na Fronteira, suspenderam o evento – no qual também haveria a 8ª Nacional do Texel.
– As despesas são grandes e deixaram de entrar várias receitas. Não tínhamos como bancar – lamenta Elton Enick, presidente do núcleo santanense da raça.
Neste ano, os sindicatos rurais perderam as contribuições compulsórias, o que, na avaliação de dirigentes, apertou ainda mais as contas.
– Ficaram sem pernas. Estão fazendo na medida do possível – observa Paulo Schwab, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco).
Uma das mais importantes exposições do Estado, a Feovelha, de Pinheiro Machado, por pouco também não foi riscada do cronograma. A decisão pelo cancelamento chegou a ser tomada. Mas força-tarefa permitiu que se obtivesse a quantia necessária – na última edição, foram R$ 250 mil. Pelo segundo ano, no entanto, o número de dias será reduzido para três. E a mostra terá foco nos animais, sem espaço para shows ou atrações.
– As feiras estão mais espalhadas e não temos um evento de peso. Em razão do custo, o pessoal trabalhará mais o aspecto comercial – avalia Francisco Schardong, presidente da Comissão de Exposições e Feiras da Federação da Agricultura (Farsul).
Para o presidente da Câmara Setorial da Ovinocultura da Secretaria da Agricultura, Roberto Azambuja, as feiras de verão ficaram mais restritas à venda de reprodutores e animais de elite. Os negócios envolvendo rebanho geral foram sendo realizados ao longo do ano:
– Antes, o comércio era praticamente só nas feiras. Agora, tem diversos compradores intermediários, que fazem aquisições ao longo do ano.
Demanda dos consumidores pela carne existe, e os preços também estão em patamares considerados satisfatórios – cerca de R$ 6 o quilo. Mas, na avaliação de criadores, falta organização do setor produtivo.
– O Rio Grande do Sul não está dando o devido valor à atividade – opina Maurício Silveira, presidente da Associação Brasileira de Texel (Brastexel).
Na contramão da crise
Se a falta de dinheiro tem afetado a organização, o mesmo não pode ser dito sobre os resultados em pista. Segundo o presidente da Arco, Paulo Schwab, as primeiras feiras, realizadas no final de dezembro, tiveram resultados “muito bons”.
Na próxima terça-feira, Bagé dará início à 10ª edição da Agrovino. O evento se estende até o dia 14. E por lá o cenário é de otimismo.
– Estamos esperando crescimento no número de animais inscritos e nas vendas. Entendemos que a participação do produtor é muito importante – aponta Geraldo Brossard Correa de Mello, presidente da Associação Bageense de Criadores de Ovinos.
No ano passado, a exposição teve cerca de 500 inscritos. Neste ano, a 5ª Nacional da Raça Corriedale também ocorre dentro da feira, o que, para Mello, amplia ainda mais a relevância.
Agende-se
JANEIRO
9 a 14 – Agrovino, em Bagé
11 a 13 – 38ª Feira de Ovinos de Verão, em Alegrete
11 a 31 – 40ª Feira de Ovinos de Verão, em Santana do Livramento
19 e 20 – 9ª Feira de Ovinos de Verão
30ª Lã e Carne, em Dom Pedrito
25 a 27 – 34ª Feovelha, em Pinheiro Machado
FEVEREIRO
16 a 18 – 4ª Expo Outono de Ovinos, em Arroio Grande
*Feiras previstas no calendário da Secretaria da Agricultura
A ovinocultura no RS
- O Estado já teve rebanho superior a 13 milhões de animais.
- Hoje, o número oficial é de 3,39 milhões.
- A maior parte do rebanho nacional, 60%, está atualmente no nordeste do país.
- Em território gaúcho, a atividade vem perdendo espaço para a produção de grãos, que avançou para a Metade Sul.
- Em 2013, o programa Mais Ovinos tinha como objetivo estimular a retenção de matrizes e, no curto prazo, ajudou a ampliar o contingente desses exemplares. Mais recentemente, a quantidade voltou a cair.
- Produtores e indústria pagam uma taxa destinada ao Fundovinos, que tem como objetivo o incentivo à atividade por meio de programas e ações. O pagamento por ovino é de 0,3467 Unidade Padrão Fiscal (UPF) e por quilo de lã de 0,0157 UPF.