Não é só nas ruas que a venda de cigarros ilegais ocorre impunemente. O comércio de falsificados e contrabandeados encontra no anonimato das redes sociais um aliado de peso. Há páginas específicas para venda de marcas paraguaias e contrabandistas também oferecem seus produtos em grupos no Facebook. Em sites de vendas online, anúncios são encontrados facilmente.
A reportagem negociou a compra de duas marcas paraguaias. Uma delas, a terceira mais vendida no país, conforme o Ibope, a Eight é fabricada pela Tabacalera del Este (Tabesa), do presidente do Paraguai, Horacio Cartes.
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A caixa com 50 pacotes de cigarros (10 carteiras cada) é vendida por uma suposta distribuidora de Osasco (SP) por R$ 700. Dependendo da quantidade, o valor pode cair para R$ 490. Se o negócio for feito com o desconto, o maço com 20 cigarros sai por R$ 0,98 – valor mais de cinco vezes inferior ao praticado no comércio legal. O preço mínimo no Estado, previsto em lei, é R$ 5,25.
O frete fica por conta da "distribuidora", que diz atuar há mais de 10 anos no Brasil e ter "pontos de distribuição" em Curitiba, no Paraná, e Salvador, na Bahia. No Rio Grande do Sul, atende há dois anos clientes de várias cidades, como Uruguaiana e São Borja.
Questão diplomática
Emerson, o homem que se identificou como gerente de vendas da distribuidora, conta que as cargas vêm semanalmente do Paraguai. Questionado sobre possível apreensão da carga, ele argumenta que o "risco é baixo", mas que, se "houver algum imprevisto", o produto é reenviado sem custo.
"Apesar de contrariar opiniões, não temos nenhum vínculo com aqueles que buscam no comércio de cigarros clandestinos lucrar para o tráfico. Somos comerciantes que encontraram uma oportunidade de negócios", escreveu.
Responsável pelo combate ao contrabando e descaminho, a Receita Federal afirmou, por meio da assessoria de imprensa no Estado, que tem atuação mais focada no controle em estradas e fronteiras para evitar "a circulação, em território nacional, de produtos potencialmente nocivos à saúde" e inibir "a prática de crimes que geram desemprego, sonegação de impostos e concorrência desleal à indústria e ao comércio regularmente instalados". O órgão informou que, eventualmente, realiza ações nos chamados pontos de distribuição.
A indústria defende que, para frear o contrabando de cigarro, o Itamaraty deveria adotar medidas efetivas de negociação comercial com o Paraguai. Entidades sugerem, por exemplo, que o governo poderia dificultar a exportação de outros produtos do país vizinho, caso não obtivesse colaboração.
– O problema do contrabando é também questão diplomática. Talvez a aproximação entre os governos brasileiro e paraguaio pudesse ajudar nesse sentido, já que o presidente é o dono da maior empresa do país – diz o presidente do SindiTabaco, Iro Schünke.