Se você ainda não ouviu falar de agricultura digital, guarde essa expressão. A inovação, que promete ser a próxima revolução no campo, tem atraído investimentos de gigantes do agronegócio em busca de aumento da produtividade nas lavouras. Com 30 milhões de hectares já integrados à nova plataforma nos EUA, a Monsanto começou a testar a tecnologia no Brasil, incluindo o Rio Grande do Sul. Por meio de aplicativo, informações da agricultura de precisão são transformadas em recomendações técnicas aos agricultores. Presidente da companhia no Brasil, Rodrigo Santos explica que a multinacional ainda não tem data para o lançamento comercial do serviço no país, mas já está buscando parcerias de empresas do setor de tecnologia da informação. Confira a entrevista com Rodrigo Santos concedida à ZH.
O que é a agricultura digital?
É o futuro, a grande inovação na agricultura. É um sistema que utiliza a tecnologia da informação, dados analíticos e cria algoritmos através desses indicadores para gerar recomendações precisas aos produtores. O sistema irá contribuir para que o agricultor aumente sua produtividade com menos recursos. Hoje já acontece isso. Um produtor colhe um talhão com média de quatro toneladas de soja, mas em alguns pedaços desse talhão deve ter colhido cinco e em alguns outros três. Como a agricultura digitar pode auxiliar? Com mapeamento preciso para elevar a produtividade média do talhão com recomendações específicas à realidade de cada metro quadrado.
Como o sistema conversa com a agricultura de precisão?
A agricultura digital é mais ampla do que os equipamentos da agricultura de precisão. A plataforma digital transforma as informações de plantio e de colheita geradas pelo agricultor em recomendações precisas e detalhadas.
Onde a plataforma já opera?
Nos Estados Unidos, são mais de 30 milhões de hectares onde os produtores têm acesso à plataforma. No Brasil, estamos fazendo testes em oito Estados, incluindo o Rio Grande do Sul. Os agricultores estão testando modelos, avaliando as informações e criando a plataforma de forma conjunta para que possamos desenvolver uma tecnologia adaptada à agricultura tropical.
No Brasil, existem deficiências de conexão de internet, especialmente no meio rural, e também em relação a estações meteorológicas. Vocês estão contando com essas dificuldades?
Sabemos que no Brasil temos alguns desafios para disseminar o sistema. Dificuldade na conexão de dados é algo que o país tem e que precisará ser superado. Há uma quantidade de estações meteorológicas muito inferior ao que se tem nos Estados Unidos. Mapas de solo e fertilidade também são desafios que teremos de trabalhar. O Brasil tem algumas peculiaridades e por isso estamos desenvolvendo essa plataforma com o apoio de outras empresas. A Monsanto irá precisar desenvolver parcerias com diversos setores da cadeia para conseguir chegar a essa nova realidade.
Já há negociações com possíveis parceiros?
A Monsanto já estabeleceu parcerias importantes com empresas de equipamentos, como plantadeiras e colhedeiras para gerar informações.
O produtor terá custos para usar a tecnologia?
No modelo americano, o agricultor opta por utilizar a plataforma em diferentes versões. No modelo mais avançado, o produtor paga um valor específico por hectare onde o sistema foi utilizado. No Brasil, ainda teremos de desenvolver esse modelo para definir como irá funcionar.
Em quantos anos a tecnologia será lançada comercialmente ao Brasil?
É difícil responder com precisão. Acredito que ainda serão necessários alguns anos para que se tenha uma plataforma comercial no Brasil. É fato que se tratando de tecnologia da informação sempre nos surpreendemos com a velocidade das mudanças. O que eventualmente hoje é um desafio se encontra uma solução mais rápido do que se imaginava. Espero que a tecnologia da informação e a ciência da computação continue a nos desafiar e a trazer mais velocidade. Mas acredito que ainda iremos precisar de alguns anos para ter uma plataforma comercial no país.
O que justifica os investimentos da Monsanto neste segmento?
Acreditamos que a plataforma agrega uma série de tecnologias. O centro de tudo é a agricultura, onde nossa empresa está 100% focada. Para alcançarmos o sucesso, o agricultor também tem que ter sucesso. Com o produtor no centro do processo, a tecnologia digital pode ajudá-lo a tomar as melhores decisões. Desde qual semente irá utilizar, população de plantas, qual o espaçamento, com soluções integradas para que o agricultor produza muito mais e com mais qualidade e conserve recursos naturais.
Quanto a Monsanto investiu em agricultura digital?
A Monsanto investe no mundo, em todas as pesquisas (melhoramento genético, novas variedades de soja, híbridos de milho, biotecnologia, biológicos e com agricultura digital), em torno de US$ 1,5 bilhão por ano. Não há como dizer quanto do total é destinado para agricultura digital, pois são todos desenvolvimentos integrados em centros de tecnologia. Mas, sem dúvida, é um volume bem significativo pelo potencial que a gente vê nessa plataforma futura.
Quais os desafios no Brasil, onde está a maior agricultura tropical do mundo?
A agricultura tropical traz desafios no manejo de pragas e doenças que a agricultura temperada, em razão do inverno rigoroso, não tem. A durabilidade das tecnologias por meio de práticas como o refúgio é extremamente relevante para a agricultura tropical. Conscientizar os agricultores, formá-los, prover a tecnologia para que eles possam fazer a adoção do refúgio de forma adequada para soja, milho e algodão é fundamental para a durabilidade da tecnologia.
* A repórter viajou a convite da Monsanto do Brasil.