Ao assumir as operações da cerealista gaúcha Marasca, a cooperativa parananense C.Vale deu início a um movimento que já começa a refletir no mercado de grãos no Rio Grande do Sul. Com um sistema agroindustrial consolidado, e atuação nos principais Estados produtores do país, cooperativas do Paraná costumam seguir o rastro das concorrentes.
Após a C.Vale chegar no mês passado ao Rio Grande do Sul, onde irá incorporar as 32 unidades da Marasca, ganharam força os rumores de que a gigante Coamo, cooperativa de maior faturamento da América Latina, também estaria com malas prontas para desembarcar em solo gaúcho. Oficialmente, a cooperativa com sede em Campo Mourão (PR) nega qualquer movimento em direção ao Rio Grande do Sul. Mas, nos bastidores, executivos confirmam as investidas da paranaense em cerealistas e cooperativas gaúchas.
- As cooperativas do Paraná têm uma forte vocação agroindustrial, e o Rio Grande do Sul é um grande produtor agrícola. É natural que haja uma inclinação para o nosso mercado - avalia Vergilio Perius, presidente da Organização das Cooperativas do Estado (Ocergs).
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Com 116 unidades no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, a Coamo faturou R$ 8,6 bilhões em 2014. Maior exportadora do Paraná, a cooperativa tem indústrias de esmagamento de soja, de margarinas e gorduras vegetais, além de fiações de algodão. A concorrente C.Vale, com sede em Palotina (PR) e unidades nos mesmos Estados, além de Mato Grosso, chegou a R$ 4,64 bilhões - firmando-se como uma das principais exportadoras de frango do país.
- O modelo gaúcho, de compra e venda de grãos, faliu. É preciso repensar esse tipo de negócio, o ciclo fechou - avalia Vitor Bento Marasca, presidente da Marasca, de Cruz Alta, que faturou R$ 1,2 bilhão em 2014 e em agosto deste ano passou a gestão da empresa à C.Vale.
Marasca nega que a decisão tenha sido motivada por dificuldades financeiras, apesar de admitir que não via mais futuro no modelo de negócio voltado exclusivamente ao recebimento de grãos e venda de insumos.
- O caminho é agregar valor, com a transformação dos grãos e busca pelo mercado internacional - diz José Roberto Ricken, superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
Presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), Paulo Pires prevê uma competição maior entre as empresas do setor com a entrada de concorrentes paranaenses, mas avalia como um processo normal de mercado.
- O sistema cooperativo gaúcho é altamente competitivo, temos dezenas de exemplos que compravam isso - contrapõe.