Por terem sua atividade historicamente afetada por instabilidades climáticas, os produtores gaúchos ocupam o segundo lugar no ranking de contratação de seguro rural, superados apenas pelos agricultores do Paraná. Considerando que a atividade é de risco, a prática de reduzir perdas provocadas por clima, ocorrência de pragas ou instabilidade de preços na hora da venda ainda é uma iniciativa pouco representativa no campo. O alento vem do fato de que a adesão a esse tipo de serviço está crescendo.
Em 2013, a área no Rio Grande do Sul dentro do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) chegou a 1,8 milhão de hectares, alta de 61% em relação ao ano anterior. Esse é um dos temas que, pela sua importância, estará nas discussões da Expodireto neste ano.
Com valores crescentes oferecidos para subsidiar os seguros nos planos safra, a intenção de governo, produtores e seguradoras é se aproximar do exemplo dos Estados Unidos, país referência na adoção do serviço. Entre os americanos, a cobertura chega a 80% dos produtores, grande parte tendo como finalidade garantir renda em caso de quebras de safra. A modalidade ainda é incipiente no Brasil e deve ser estimulada.
Diferentemente dos tipos de seguro mais negociados atualmente, que cobrem custeio e produção, o seguro de renda indeniza o agricultor com base nos valores historicamente recebidos pelo produtor com a venda. O modelo é a aposta também para fazer a cultura de proteção à produção ganhar escala em áreas do Sudeste e Centro-Oeste, já que hoje a iniciativa é mais popular na Região Sul, onde se concentram os riscos trazidos pelas instabilidades do tempo.
- O importante é que o produtor tenha opções. Particularmente, acho que o seguro de renda garante mais tranquilidade. Na prática, você está permitindo ao agricultor ter uma operação de risco, ou algo muito próximo disso - avalia Bruno Kelly, professor da Escola Nacional de Seguros.
Para essa alternativa deslanchar, ainda é preciso ampliar a adesão de um maior número de produtores, justamente uma das barreiras para tornar as apólices mais acessíveis.
- O seguro é uma ciência que trabalha com mutualismo. Se o grupo for maior, fica melhor para todos, pois o risco fica mais diluído. Se a aquisição se concentra apenas em uma região, caso ocorra algum problema vai haver um excesso de indenizações - comenta Adelson Cunha, especialista no segmento rural da corretora Promass.
Para a safra 2013/2014, o governo federal destinou R$ 700 milhões para a subvenção ao prêmio do seguro, o dobro do período anterior. E apesar de ainda não prever ações específicas para o plano do próximo ciclo, a intenção do Planalto é estimular futuramente a aquisição de apólices na modalidade renda.
- Os Estados Unidos trabalham muito com isso. No Brasil, caminharemos na mesma direção. A atuação do governo é importante para dar uma solução de mercado
- opina Vicente Diniz, diretor do Departamento de Seguro Rural do Ministério da Agricultura.
Proagro não substitui a contratação de seguro
Um das dificuldades que, segundo especialistas, ajuda a limitar o crescimento da área segurada no campo é a confusão em relação ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Com 80% das operações concentradas em pequenos e médios produtores, o programa é visto como espécie de garantia, mas está longe de substituir a contratação de apólices.
Obrigatório em empréstimos de até R$ 300 mil a partir da safra 2014/2015, o programa isenta o produtor de quitar o financiamento retirado no banco em razão de perdas por instabilidade no clima ou pragas e doenças que atinjam as plantações, mas não garante compensação para a renda que deixou de ser gerada.
- O Proagro não é bem um seguro. É um programa do governo, em que objetivo maior é cobrir o credor e não o produtor. Seguro e Proagro são produtos completamente distintos, mas para o produtor isso não está claro - explica Bruno Kelly, professor da Escola Nacional de Seguros.
Para o crescimento na oferta do seguro de renda, outra barreira a ser enfrentada é a falta de um banco de dados confiável sobre o histórico de produção dos agricultores.A informação é essencial para as seguradoras no momento de oferecer a modalidade. Hoje, as cooperativas seriam as mais aptas a fornecer as informações, mas ainda é preciso de uma fonte confiável.
- No Brasil, temos um histórico apenas em formação. É muito incipiente - relata Bruno, ao ressaltar que a cultura do seguro rural ainda é muito nova no país, com cerca de 10 anos de existência.
AS MODALIDADES MAIS COMUNS DE SEGURO
CUSTEIO
- Em caso de perda por instabilidade climática ou doença na lavoura, o produtor é indenizado com o valor gasto para custear a área plantada.
PRODUÇÃO
- Essa modalidade garante ao produtor, em caso de quebra, a diferença entre a estimativa de safra média e a colheita efetiva.
RENDA
- Em vez de levar em consideração quanto o produtor colheu ou quanto gastou com a lavoura, essa modalidade de seguro é contratada com base em uma estimativa de ganho. Se o agricultor não conseguir vender a saca pelo valor projetado inicialmente, a seguradora cobre a diferença entre a renda que estava prevista e a que foi obtida.