Transformar a questão da demarcação de terras em um duelo entre índios e produtores é o mais perigoso caminho a ser trilhado na tentativa de se fazer justiça fundiária no país. O que estamos vendo, na prática, é uma polarização do tema, que coloca produtores de um lado e indígenas do outro.
O resultado desastroso desta abordagem se traduz em violência, com vítimas dos dois lados. Na semana passada, um índio morreu após confronto com policiais federais e militares na Fazenda Buritis, em Sidrolândia (MS). O episódio foi classificado em nota da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) como "crônica de uma tragédia anunciada". Ontem, um produtor gaúcho ficou ferido ao usar uma rua lateral para desviar do bloqueio feito por índios no km 272 da rodovia Passo Fundo-Lagoa Vermelha (BR-285), em Mato Castelhano, no norte do Estado.
Quem circula pelo Interior tem testemunhado a hostilidade crescente entre agricultores e índios. A suspensão da homologação das demarcações no Estado é só um recurso que concede tempo extra, mas está longe de resolver a questão. Os produtores pedem um marco que lhes dê segurança jurídica, como observa Paulo Ricardo de Souza Dias, presidente da Comissão Fundiária da Farsul.
Para agir com a máxima justiça possível é necessário tratar o assunto com seriedade e, acima de tudo, com transparência. Se os laudos apresentados deixam dúvidas, melhor esclarecê-las. É preciso, ainda, levar em conta as considerações de quem realmente entende do assunto, deixando de lado os tradicionais palpiteiros de plantão.
E também é preciso afastar os interesseiros - há gente disposta a lucrar com as invasões e até mesmo com as terras conquistadas. Um levantamento feito pelo gabinete do deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS) mostra que dos 95,52 mil hectares de áreas indígenas regularizadas no Estado, 33,4 mil já teriam sido arrendadas, o que não é permitido.