A pujança da produção do tabaco pode ser reconhecida pela grandiosidade dos seus números no Brasil. Com cerca de 128 mil famílias produtoras envolvidas e com faturamento de mais de R$ 9 bilhões na safra 2021/2022, a cultura emprega no campo mais de 600 mil pessoas e gera em torno de 2 milhões de empregos indiretos. O Rio Grande do Sul, que lidera o ranking brasileiro de produção com mais de 50% do total colhido, é também pioneiro em iniciativas que fazem da fumicultura uma das atividades agrícolas mais sustentáveis do Estado. E, no ranking das exportações gaúchas dos produtos primários, só fica atrás da soja.
Com maior presença no Vale do Rio Pardo e na Zona Sul do Estado, a cultura destaca-se por iniciativas que melhoram a qualidade de vida do produtor. Hoje, o tabaco está entre as culturas que menos utiliza agrotóxico. Nas áreas produtoras, ao menos 22% do total da propriedade abriga florestas. Outro marco importante do setor é o combate ao trabalho infantil nas lavouras, que começou há mais de 20 anos. Esta ação fez com que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontasse o setor como um exemplo na proteção de crianças e adolescentes.
A diversificação das propriedades tem sido adotada pelos produtores, como exemplo, o Programa Milho, Feijão e Pastagens após a colheita do tabaco conduzido pelo Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) com apoio de entidades ligadas à agricultura e dos governos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, representou um incremento de R$ 779 milhões na renda das 128 mil famílias produtoras de tabaco dos três Estados do Sul no ano passado.
Em 2014, o Ministério da Agricultura publicou as Normas Técnicas Específicas para a certificação do tabaco – assegurando a adoção de processos exitosos de governança junto de seus produtores.
– Para seguir no campo, o produtor precisa de renda e, também, de uma vida digna. Com estas ações produzimos mais, com qualidade e melhoramos a vida de quem trabalha diretamente no cultivo – explica o presidente do SindiTabaco, Iro Schünke.
Para alcançar estes números e acumular tantos resultados positivos, capitaneados pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e pelo Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), a cadeia produtiva do setor desenvolve há décadas, um conjunto de ações e iniciativas que envolvem questões ambientais, sociais e de governança – ou, em inglês, Environmental, Social and Governance (ESG). Estas três letras são a marca de uma moderna rede de estratégias e processos adotadas em prol da melhora dos resultados em todos os agentes da cadeia produtiva do setor.
Para saber mais sobre a agenda ESG no tabaco acesse o portal na internet do SindiTabaco
– A produção de tabaco (no Sul do Brasil) cresceu muito nas décadas de 1970 e 1980. Na época, nós fizemos convênios com o governo federal para que os produtores adotassem projetos de reflorestamento e de preservação da mata nativa a fim de diminuir possíveis impactos ambientais. Foi o princípio de tudo – recorda Benício Albano Werner, presidente da Afubra.
O objetivo das ações e iniciativas do ESG é fazer a manutenção da produção de tabaco no Brasil, tendo como eixo três pilares: ambiental, social e de governança. Além de garantir a liderança do país no ranking dos maiores exportadores, o trabalho visa qualificar toda a cadeia produtiva e, consequentemente, proporcionar melhorias para quem trabalha com a cultura.
Ações que revolucionaram a vida do produtor
Benício Werner, que hoje preside a Afubra, tem quase 50 anos de vivência no setor fumageiro. Ele descreve as mudanças vivenciadas neste período que resultaram na melhoria da vida de quem trabalha com a cultura e também da evolução nos processos de produção. Quando era colono junto da família, em uma propriedade no interior do município de Vale do Sol, no Vale do Rio Pardo, ele recorda que não havia o incentivo na diversificação, como é feito pela maioria dos produtores de tabaco atualmente.
– Nos anos 1990, iniciamos o projeto Verde Vida. O programa consiste em levar para as escolas das regiões produtoras ações de conscientização sobre a importância do reflorestamento e a sensibilização das crianças para incentivar seus pais ao uso correto dos EPIs e também a necessidade das crianças e jovens frequentarem as escolas – conta Werner.
Acesse o site da Afubra para conhecer o projeto Verde é Vida
Um dos frutos deste trabalho desenvolvido é o Instituto Crescer Legal, iniciativa do SindiTabaco, fundado em abril de 2015. Financiada por empresas privadas do setor de tabaco, a entidade foi pensada para fomentar a educação, oferecer alternativa e combater o trabalho infantil nas regiões de plantio de tabaco nos três Estados do Sul. A intenção é oferecer condições para que os jovens vislumbrem possibilidades no campo a partir de oportunidades de geração de renda e do desenvolvimento de suas potencialidades.
O Instituto atua em três programas: o primeiro deles, o Programa de Aprendizagem Profissional Rural oferece formação no curso de gestão rural e empreendedorismo para adolescentes de 14 a 17 anos. Durante o programa, os participantes são contratados como jovens aprendizes por empresas parceiras e focam seus estudos na viabilidade de produtos de gestão no meio rural, a partir da sua realidade.
O segundo programa, o Programa Nós por Elas – A voz feminina no campo, trabalha as relações de gênero e o papel da mulher, especialmente no meio rural. A iniciativa trabalha com egressas do Programa de Aprendizagem e promove o debate sobre diferentes temáticas. As participantes são capacitadas na área de comunicação em uma parceria com a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Depois disso, elas produzem boletins de rádio que são veiculados em programas de parceiros atuando como multiplicadores do conhecimento sobre o tema com outros jovens do meio rural. Em 2022, sete jovens de Boqueirão do Leão, Canguçu, Herveiras e Passo do Sobrado participaram do projeto.
Já o Programa de Boas Práticas de Empreendedorismo para a Educação trabalha com profissionais de educação sobre atividades que despertem o empreendedorismo entre os estudantes. Realizado em parceria com o município de Canguçu, esta ação compartilha a metodologia e as ferramentas pedagógicas do Instituto Crescer Legal com educadores das escolas municipais do meio rural, com debates sobre autoconhecimento, empatia e comunicação, tecnologia, inovação, observação e organização. Até 2021, 15 escolas rurais de Canguçu receberam o programa e mais de 600 jovens foram contemplados com a atividade.
– Nosso objetivo é o desenvolvimento destes jovens, abrindo seus horizontes para que no futuro estejam melhor preparados para tomar a decisão correta, seja a permanência na propriedade ou a escolha por outra atividade – justifica Iro Schünke, presidente do SindiTabaco, que também está à frente do Instituto.
Estas ações acabam por acertar em cheio um problema que preocupa o setor agrícola no geral, a falta de interesse pela sucessão no campo pelos mais jovens. O objetivo é que com todas estas ferramentas, a sucessão na propriedade rural seja uma opção de escolha para o seu futuro.
Campo em Debate
Atenção às práticas ambientais, sociais e de governança é o tema do painel “Campo em Debate: Agenda ESG na cultura do tabaco”, que será realizado na Casa RBS, no dia 31 de agosto, às 13h30min, durante a Expointer, em Esteio. O presidente do SindiTabaco, Iro Schünke, e o presidente da Afubra, Benício Albano Werner, vão conversar sobre as ações de ESG desenvolvidas junto dos produtores em painel mediado pela jornalista Gisele Loeblein, de Zero Hora. Também participam da conversa o secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, Domingos Velho Lopes, e a superintendente do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul, Helena Pan Rugeri