A conferência internacional da ONU sobre as mudanças climáticas (COP27) começa no próximo domingo (6) no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh, em meio a alertas contra o aquecimento global e grande nervosismo com o desabastecimento energético, além da grande expectativa com a volta do Brasil ao protagonismo ambiental.
Trinta anos depois da histórica Cúpula da Terra, popularmente conhecida como Eco-1992, no Rio, o Brasil poderia voltar à primeira linha do combate às mudanças climáticas, após quatro anos de governo de Jair Bolsonaro.
A COP é o grande evento anual da ONU para o enfrentamento das mudanças climáticas. Desta vez, a temática africana estará em primeiro plano pela vontade do país anfitrião de dar voz às reivindicações do continente: basicamente mais ajuda para a adaptação ao impacto ecológico e a medidas colaterais, como um perdão à dívida externa.
Mas a guerra na Ucrânia, a angústia da Europa frente à grande crise do gás e do petróleo e as eleições legislativas de meio de mandato nos Estados Unidos, em 8 de novembro, ameaçam dominar, mais uma vez, uma conferência que reúne, até o próximo dia 18, praticamente toda a comunidade internacional — quase 200 membros.
Lula na cúpula dos líderes
Na segunda (7) e na terça-feira (8) será realizada uma cúpula de líderes, com a presença de até uma centena de participantes. Embora não vá participar diretamente deste fórum reservado aos chefes de Estado em exercício, o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, confirmou que participará da COP27, aceitando um convite feito pelo Egito.
Outro que confirmou presença foi o presidente americano, Joe Biden, mas a cúpula será marcada também por ausências importantes, como a dos presidentes russo, Vladimir Putin, e chinês, Xi Jinping.
A China é o maior emissor de gases de efeito estufa do planeta e as relações bilaterais com os Estados Unidos, que vêm logo em seguida, são muito frias atualmente, o que não facilita as complexas negociações no âmbito da COP, onde todas as decisões são tomadas por consenso.
Brechas entre ricos e pobres
A comunidade internacional se comprometeu durante a histórica COP21 de Paris, em 2015, a limitar o aumento da temperatura média no planeta a um máximo de 2°C, e preferencialmente a 1,5°C até o fim do século. Ao invés disso, o aquecimento global pode chegar a 2,8°C, segundo o último relatório da ONU.
— Nós nos encaminhamos para uma catástrofe global — advertiu na semana passada o secretário-geral da ONU, António Guterres.
E as emissões de gases de efeito estufa vinculadas à energia continuarão aumentando até alcançar o pico em 2025, segundo a Agência Internacional da Energia (AIE). Em meio a temores de uma recessão mundial, a COP27 começa precisamente sob a ameaça de bloqueio devido a um tema espinhoso: as "perdas e danos" provocados pelas mudanças climáticas.
Perdas e danos
Os países em desenvolvimento pedem a criação de um fundo para enfrentar estes prejuízos provocados pelas emissões de gases de efeito estufa, das quais são as principais vítimas. Embora oficialmente as partes negociadoras da COP tenham até 2024 para tomar uma decisão, os "fundos e perdas" estão na agenda provisória de Sharm el Sheikh, que deve ser aprovada na abertura do evento, neste domingo.
"No primeiro dia da COP27, os países desenvolvidos devem responder ao apelo do G77 (bloco de 134 países em vias de desenvolvimento)", advertiu um relatório recente do americano World Ressources Institute.
Os Estados Unidos se mostram relutantes em estabelecer um fundo de perdas e danos. A China é aliada do G77, enquanto a União Europeia está aberta à discussão, ainda que com cautela. A Alemanha, que preside atualmente o clube de países ricos (G7), quer exercer um papel de "ponte", assegurou sua vice-ministra das Relações Exteriores, Jennifer Morgan. Ainda que o mundo esteja vivendo um "momento de turbulências maciço", advertiu.
Além do capítulo perdas e danos, persiste uma demanda em torno dos US$ 100 bilhões anuais que supostamente os países ricos devem repassar aos mais pobres para mitigarem a emissão de gases de CO2 e se adaptarem aos efeitos das mudanças climáticas. Este montante anual nunca foi alcançado na realidade. Faltam cerca de US$ 17 bilhões, e os países ricos já estão com dois anos de atraso.