Pesquisadores na França disseram recentemente que haviam encontrado milhares e milhares de partículas microplásticas trazidas pelo vento a um local isolado nos Pirineus, a 75 quilômetros da cidade mais próxima.
Seu estudo, publicado no periódico "Nature Geoscience", sugere que os microplásticos – há muito conhecidos como fonte de poluição da água – também podem viajar por via aérea, espalhando seus efeitos nocivos longe de centros populacionais densos.
Deonie Allen, uma das pesquisadoras, disse que o estudo de cinco meses foi "o primeiro passo para reconhecer microplásticos como um poluente aéreo". Steve Allen, outro pesquisador, chamou as descobertas de "assustadoras".
"Meio que esperávamos encontrar plásticos lá, mas certamente não estávamos preparados para a quantidade que encontramos", disse Steve Allen, aluno de pós-graduação. "Foi surpreendente: 11.400 unidades de microplástico por metro quadrado por mês, em média."
– O que são microplásticos?
Os microplásticos são pedaços de detritos plásticos que medem menos de cinco milímetros de comprimento, aproximadamente o tamanho de uma semente de gergelim, de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica.
Mas eles também podem ser muito menores que isso. Os fragmentos encontrados pelo estudo dos Pirineus tinham em geral de 10 a 300 mícrons, a maioria com cerca de 50 mícrons, disse Deonie Allen. Para comparação, um fio de cabelo humano tem cerca de 70 mícrons de largura.
"Eles são poluentes atmosféricos invisíveis", disse ela.
Os microplásticos podem vir de uma variedade de fontes, incluindo artigos como frascos plásticos ou lentes de contato descartáveis que se dividem em partes menores. De acordo com Allen, grande parte da poluição microplástica vem de cidades, aterros e fazendas que são pulverizadas com "água de reúso, cheia de microplásticos".
Os microcristais, encontrados em alguns produtos de higiene como pasta de dentes, são outra fonte de poluição microplástica. A preocupação com seu impacto ambiental levou alguns governos, incluindo o Reino Unido, a proibir a fabricação de produtos que os contenham.
– Onde são encontrados?
Eles podem estar por todos os lados. Ou, pelo menos, onde quer que a água e o vento possam levá-los.
No oceano, os microplásticos contribuem para fenômenos como a Grande Ilha de Lixo do Pacífico, um aglomerado de mais de 87 mil toneladas de lixo que se encontra a centenas de quilômetros da costa.
Mas o estudo dos Pirineus, uma colaboração entre a Universidade de Strathclyde, na Escócia, e o Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica da Universidade de Toulouse, sugere que eles também podem ser uma fonte de poluição no ar e em terra.
"Agora, há muito conhecimento sobre os oceanos como um condutor de poluição microplástica, o que está criando certa reação contra o plástico. Mas estamos descobrindo que não podemos fugir dela, porque também está no ar", disse Steve Allen.
O estudo foi realizado em um local remoto, a quatro quilômetros do vilarejo mais próximo e a cerca de 75 quilômetros da cidade mais próxima, Toulouse. Os pesquisadores, retirando amostras de dois dispositivos de monitoramento diferentes, descobriram que 365 pedaços de microplástico por metro quadrado chegam aqui diariamente.
Steve Allen comparou os microplásticos aéreos à poeira do Saara, que há muito sabemos viajar pelo vento, através do oceano, até os Estados Unidos e o Caribe.
"Com 450 mícrons, ela pode viajar 3.500 quilômetros. Os plásticos não são tão densos, têm cerca de metade do peso e formas irregulares; portanto, em matéria de aerodinâmica, é mais fácil para essas partículas serem levadas pelo ar."
– Que dano podem causar?
Descobriu-se que os microplásticos prejudicam os animais, incluindo insetos e espécies marinhas, de várias maneiras, porém mais pesquisas precisam ser feitas para determinar seu efeito sobre os seres humanos, disseram os pesquisadores.
Steve Allen disse que já foi verificado que os microplásticos "bloqueiam o intestino" de peixes e insetos.
"Sabemos que os produtos químicos que compõem o plástico têm um impacto sobre os sistemas endócrino e linfático dos animais", que regulam a produção de hormônios e a eliminação de toxinas corporais, disse ele.
Em um exemplo dos efeitos do bloqueio intestinal do plástico em uma escala maior, um cachalote morto encalhou este mês na ilha italiana da Sardenha com mais de 20 quilos de plástico em seu estômago, incluindo microplásticos, além de itens maiores como um tubo ondulado e sacos de compras.
Deonie Allen disse que o microplástico poderia igualmente mudar a composição química do ambiente de maneira pequena, mas significativa – por exemplo, absorvendo feromônios que peixes e insetos precisam para ativar seus reflexos de sobrevivência.
"Quando você coloca o plástico nesse ambiente, ele absorve esse produto químico, o que significa que essas reações de proteção ou defesa não estão mais ocorrendo. Não se trata apenas de impactos biológicos dentro do animal; também impacta o ambiente em que ele vive."
Os pesquisadores estão cada vez mais certos da onipresença dos microplásticos na vida humana.
Um estudo publicado em 2017 descobriu que estavam presentes em 83 por cento das amostras de água de torneira coletadas em todo o mundo, incluindo 94 por cento das amostras dos Estados Unidos, que tinham a maior taxa de contaminação.
Um estudo publicado no ano passado descobriu uma variedade de microplásticos em amostras de fezes de oito pessoas na Finlândia, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Rússia, Reino Unido e Áustria. Outro estudo estimou que quem come frutos do mar com frequência pode estar ingerindo cerca de 11 mil microplásticos a cada ano.
Por Liam Stack