O inverno não poderia chegar chegar ao fim de agosto de melhor maneira: com neve na serra gaúcha. Que tal ver imagens de quando a paisagem branquinha tomou conta da principal praça de Caxias do Sul?
Em junho de 2018, a coluna Memória, do Pioneiro, retornou a 28 de maio de 1941, quando o semanário A Época noticiou o fenômeno na capa da edição de 1º de junho. A notícia “Caxias sob o espetáculo deslumbrante de mais uma nevada”, destaque da primeira página, é um primor em expressões, adjetivos e construções rebuscadas características da época.
Ou alguém ousaria hoje publicar algo como: “Dir-se-ia que a nossa cidade, qual elegantíssima noiva, ostentava altiva o véu virginal, decidida ao cortejo nupcial”?
Veja o texto sobre a neve de 1941
“A alma emotiva da nossa população viveu, na manhã de quinta-feira última, horas de imenso deslumbramento. É que a cidade amanheceu coberta de vasto e espesso lençol de neve. Já na tarde quarta-feira, 28 de maio, se observara queda brusca de temperatura, acompanhada de gélido chuvisqueiro.
Pelas 21h daquele dia puderam inúmeras pessoas observar o início da nevada, que, em quantidade cada vez maior, ia se dissolvendo sob a ação da chuva. Pelas 23h, porém, com a interrupção desta, começou o nosso solo a mostrar a camada alvíssima de neve. E o espetáculo maravilhoso prosseguiu madrugada adentro. Às 6h, a nossa cidade oferecia aspecto inolvidável. É que se não divisava, sob as primeiras barras do dia 29, aqui, outra coisa que não a brancura belíssima da neve.
Uma camada média de 25 centímetros cobria e tomava as formas de todas as coisas que estavam ao alcance da vista extasiada: telhados, ruas, calçadas, árvores, automóveis, etc, formando um conjunto encantador. E as encostas montanhosas da cidade não apresentavam aspecto diferente: tudo era branco! Dir-se-ia que a nossa cidade, qual elegantíssima noiva, ostentava altiva o véu virginal, decidida ao cortejo nupcial. E, com efeito, como se fora uma noiva, ela nunca se apresentara, antes, tão deliciosamente bela.
Mas o espetáculo grandioso deveria ter curta duração: é que pelas 6h30min, insistente e indesejada chuvinha iniciava a sua ação destruidora. E, no seu maléfico afã, ia a pouco e pouco minorando aquele quadro sem par. Contudo, puderam os caxienses — e os visitantes, extasiados! — viver aquele ambiente polar até a tardinha, quando se dissiparam os últimos contornos daquela efêmera beleza!”
Jornal A Época (1º de junho de 1941)
As fotos
As imagens integram o blog www.caxiaspormancuso.blogspot.com, mantido pelo leitor Renan Carlos Mancuso, filho do fotógrafo Reno Mancuso (1919-1974), autor das fotos de 1941. Já o jornal de onde foi retirado o texto original integra o acervo do Centro de Memória da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul.
Em atividade entre os anos de 1938 e 1958, o semanário A Época circulava aos sábados e teve como primeiros diretores Ítalo Balen e João Brusa Netto. Também trazia o seguinte slogan: Jornal da Mocidade em Prol das Aspirações Coletivas.